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APT, FRANÇA
Keller disse ao concierge que estava passeando pelas montanhas, por
isso as manchas de sujeira nas bochechas, a mochila imunda e o cheiro de
mato que emanava de suas roupas. Subindo para o quarto, barbeou-se com
muito cuidado, mergulhou o corpo cansado numa banheira de água
fervente e fumou o primeiro cigarro em dois dias. Em seguida, foi para o
salão de refeições, onde consumiu um jantar extraordinariamente farto
regado pelo bordeaux mais caro disponível, cortesia de Marcel Lacroix.
Saciado, caminhou pelas ruas vazias da cidade antiga até a basílica. O
interior da igreja estava escuro e deserto, exceto por Gabriel, sentado diante
das velas votivas.
— Mas você tem certeza? — perguntou, quando Keller se juntou a
ele.
— Sim — respondeu Keller, assentindo devagar. Ele tinha certeza.
— Você chegou a vê-la?
— Não.
— Então como sabe que ela está lá?
— Porque sei identificar uma operação criminosa — respondeu
Keller, confiante. — Ou eles estão operando um laboratório de
metanfetamina, ou montando uma bomba suja, ou vigiando uma garota
inglesa sequestrada. Estou apostando na garota.
— Quantas pessoas na casa?
— Brossard, a mulher e mais dois garotos da Marselha, que ficam na
casa durante o dia, mas à noite saem para fumar um cigarro e tomar um
pouco de ar fresco.
— Algum visitante?
Keller balançou a cabeça.
— A mulher sai da casa uma vez por dia para fazer compras e
cumprimentar os vizinhos, mas não percebi mais nenhuma atividade.
— Quanto tempo ela ficou fora?
— Uma hora e vinte e oito minutos no primeiro dia; duas horas e
doze minutos no segundo.
— Eu admiro a sua precisão.
— Não tinha muito com que me ocupar.