A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Paul nunca disse.
— Quanto tempo ela ficou aqui?
— Desde o começo — respondeu a mulher. E, então, ela morreu.
Eles deitaram os quatro corpos no chão do depósito e os cobriram
com um lençol branco. Não havia nada a ser feito quanto ao sangue dentro
da casa, mas, no lado de fora, Gabriel usou uma mangueira para lavar o
jardim, apagando um pouco as evidências do que tinha acontecido.
Calculou que tivessem pelo menos 48 horas até a mulher da L’Immobilière
aparecer para recolher as chaves dos arrendatários e supervisionar a
limpeza. Ao ver o sangue, ela ligaria imediatamente para os gendarmes, que,
por sua vez, descobririam os cadáveres no depósito particular do
proprietário, que fora esvaziado e convertido numa cela para uma vítima de
sequestro. Quarenta e oito horas, pensou Gabriel. Talvez um pouco mais, não
muito.
O dia estava começando a raiar quando saíram do vale e voltaram
para o ponto onde tinham guardado a moto e o velho Renault de Keller.
Gabriel parou para dar uma última olhada: uma figura solitária, um
trabalhador, passava pelos vinhedos, mas não havia mais nenhuma
atividade na região. Eles guardaram as mochilas no porta-malas do carro de
Keller e foram separados para Buoux, onde comeram brioches e tomaram
café com leite numa cafeteria cheia de fregueses de rosto avermelhado. O
cheiro de pães recém-assados fez Gabriel se sentir ligeiramente enjoado. Ele
ligou para Graham Seymour em Londres e, em linguagem cifrada, relatou
que a missão tinha falhado, que Madeline estivera na casa, mas fora
removida havia cerca de 72 horas. A pista dera num beco sem saída, disse
antes de desligar. Tudo o que podiam fazer agora era esperar pelas exigências
de Paul.
— E se ele decidir que é arriscado demais fazer exigências? —
indagou Keller. — E se ele resolver matá-la?
— Por que você é sempre tão pessimista?
— Acho que você está começando a me influenciar.
Eles saíram do Lubéron pela mesma rota que tinham usado na noite
anterior ao seguir René Brossard e a mulher de Aix: descendo as colinas do
maciço, atravessando o rio Durance, passando pelo reservatório de Saint-
Christophe e, por fim, entrando em Marselha. Uma balsa partia para a
Córsega ao meio-dia. Compraram uma passagem e sentaram lado a lado em
mesas separadas numa cafeteria adjacente ao terminal. Gabriel tomou chá e

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