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DOWNING STREET
Depois de uma vida inteira servindo no mundo secreto, Gabriel
tinha perdido a conta do número de vezes que entrara numa sala no meio
de uma crise. A categoria e o contexto não importavam: era sempre a mesma
coisa. Um homem andando sem parar pelo tapete, outro diante de uma
janela com uma expressão entorpecida, e alguém tentando
desesperadamente parecer calmo e estar sob controle, mesmo quando não
havia controle possível. Naquele caso, o cômodo era a Sala de Estar Branca
do número 10 da Downing Street. O homem inquieto era Simon Hewitt;
Jeremy Fallon olhava pela janela; Jonathan Lancaster procurava aparentar
calma. Ele estava sentado num dos dois sofás opostos em frente à lareira. Na
mesa baixa e retangular à sua frente, havia o celular que tinha sido deixado
no Hyde Park na manhã anterior. Lancaster o fitava como se o aparelho, e
não Madeline Hart, fosse a fonte de seus problemas.
Ele se levantou e se aproximou de Gabriel e Seymour com a cautela
de um homem que atravessasse o convés de um veleiro num mar
turbulento. As câmeras de televisão cometiam uma injustiça com Lancaster:
ele era mais alto do que Gabriel tinha imaginado e, apesar da tensão do
momento, mais bem-apessoado.
— Eu sou Jonathan Lancaster — apresentou-se, um tanto
absurdamente, enquanto apertava a mão de Gabriel. — Já era hora de nos
conhecermos. Só queria que as circunstâncias fossem diferentes.
— Eu também, primeiro-ministro.
A intenção de Gabriel foi dar um tom empático ao comentário, mas
Lancaster estreitou os olhos, achando que o agente estava condenando sua
conduta. Ele soltou a mão de Gabriel rapidamente e gesticulou para as
outras duas pessoas na sala.
— Suponho que você saiba quem são esses cavalheiros — continuou,
depois de se recompor. — O que está abrindo um buraco no meu carpete é
Simon Hewitt, meu porta-voz. E aquele ali é Jeremy Fallon. Segundo os
jornais, é o meu cérebro.
Hewitt parou de andar por tempo suficiente para menear a cabeça
vagamente na direção de Gabriel. Sem paletó, com as mangas arregaçadas