iam ao número 10 da Downing Street tarde da noite vestidas com o tipo de
roupa que pode ser comprada numa loja de departamentos barata em
Marselha.
Às onze horas, Seymour desceu, pálido, com uma aparência muito
cansada. Recusou a oferta de comida da chef, mas devorou os restos do
sanduíche de ovo com endro de Gabriel. Por fim, os dois saíram para
caminhar pelo jardim murado. Os arredores da propriedade estavam
silenciosos, sem contar as crepitações ocasionais de rádios da polícia e o
barulho de trânsito da Horse Guards Road. Seymour tirou um maço do bolso
do casaco e acendeu um cigarro, melancólico.
— Eu não sabia — comentou Gabriel.
— Helen me fez parar anos atrás. Eu tentei fazê-la parar de
cozinhar, mas ela se recusou.
— Ela parece uma boa negociante. Talvez devêssemos deixá-la lidar
com Paul.
— Ele não teria chance. — Seymour soprou a fumaça na direção do
céu sem nuvens e a observou flutuar para além dos muros. — É possível que
você esteja errado, sabe? Talvez tudo ocorra tranquilamente e Madeline
esteja em casa amanhã à noite.
— Também é possível que um dia a Inglaterra recupere o controle
das colônias americanas. Possível, mas improvável.
— Dez milhões de euros é muito dinheiro.
— Pagar o resgate é a parte fácil; trazer de volta o refém vivo é outra
história.
A pessoa que vai entregar o dinheiro deve ser um profissional
experiente. E precisa estar preparada para se afastar caso note que os
sequestradores querem enganá-la. — Gabriel fez uma pausa. — Não é um
trabalho para fracos.
— Existe alguma chance de você considerar fazê-lo?
— Nestas circunstâncias, absolutamente nenhuma.
— Eu tinha que perguntar.
— Quem lhe pediu?
— O que você acha?
— Lancaster?
— Na verdade, Jeremy Fallon. Você o deixou bastante
impressionado.
— Não o suficiente para ele me dar ouvidos.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1