A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Ele está desesperado.
— E é exatamente por isso que ele não deveria se aproximar daquele
telefone. Seymour deixou o cigarro cair na grama molhada e o esmagou com
o sapato antes de voltar para dentro com Gabriel, reconduzindo-o à sala de
reunião. Nada tinha mudado: um homem andando pelo tapete, outro
diante da janela, entorpecido, e um terceiro tentando desesperadamente
parecer calmo. O telefone ainda estava desmontado na mesinha de centro.
Gabriel inseriu a bateria e o chip e ligou o aparelho, então sentou no sofá em
frente a Lancaster e esperou pela ligação.
A chamada veio precisamente à meia-noite. Fallon colocara o volume
no máximo e ativara a função de vibrar, logo o telefone trepidou pela mesa
como se estivesse passando por um pequeno terremoto particular. Ele
estendeu a mão para o celular no mesmo instante, mas Gabriel segurou seu
braço por agonizantes dez segundos antes de enfim soltá-lo. Fallon atendeu
e, com os olhos fixos em Lancaster, disse: “Eu concordo com os seus termos.”
Gabriel admirou a escolha de palavras. A chamada certamente estaria sendo
gravada pelo Quartel-General
de Comunicações do Governo, o serviço de espionagem eletrônica
da Inglaterra, e ficaria armazenada em seus bancos de dados até o fim dos
tempos.
Fallon não disse nada durante os 45 segundos seguintes. Com o olhar
ainda focado no primeiro-ministro, tirou uma caneta-tinteiro do bolso do
paletó e rabiscou algumas linhas ilegíveis num bloquinho de notas. Gabriel
pôde escutar o som da voz de máquina, fina e sem vida, com a entonação
toda errada, vazando pelo receptor.
— Não — disse Fallon finalmente, adotando o mesmo padrão —, isso
não será necessário. — Após uma pergunta, respondeu: — Sim, é claro, você
tem a nossa palavra. — Depois disso, houve outro silêncio durante o qual
seus olhos se moveram de Lancaster para Gabriel e de volta para o primeiro-
ministro. — Talvez isso não seja possível — disse, cuidadoso. — Preciso
perguntar.
A ligação caiu. Fallon desligou o telefone.
— E então? — perguntou Lancaster.
— Ele quer que o dinheiro seja posto em duas malas pretas de
rodinhas. Nenhum dispositivo de rastreamento, nenhuma bomba de tinta,
nada de polícia. Ele vai ligar de novo amanhã ao meio-dia para nos dizer o
que fazer em seguida.

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