A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

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LONDRES


Pouco depois da uma hora da manhã, Gabriel finalmente saiu da
Downing Street. Seymour lhe ofereceu uma carona, mas ele queria andar.
Havia meses Gabriel não ia a Londres, e achou que o ar úmido da noite lhe
faria bem. Saiu pelo portão de segurança dos fundos da Horse Guards e
seguiu para oeste pelos parques vazios, chegando à Knightsbridge. Depois,
percorreu a Brompton Road até South Kensington. O local para o qual se
encaminhava estava guardado nas gavetas de sua extraordinária memória:
Victoria Road, 59, a última residência conhecida de Christopher Keller na
Inglaterra.
Era uma pequena casa sólida com um portão de ferro batido e um
pequeno lance de escadas que levava à porta branca da frente. Havia flores
bem cuidadas no vestíbulo e, na janela da sala de estar, brilhava uma única
luz. A cortina estava aberta alguns centímetros; pelo vão, Gabriel viu um
homem, o Dr. Robert Keller, sentado ereto numa poltrona — não dava para
saber se lendo ou cochilando. Ele era um pouco mais jovem do que
Shamron, mas ainda assim não tinha muito tempo de vida pela frente.
Havia 25 anos, sofria com a crença de que o filho estava morto, uma dor que
o agente israelense conhecia bem demais. A atitude de Keller era insensível,
mas não cabia a Gabriel interferir. Por isso, ele ficou parado na rua vazia,
torcendo para que o idoso pudesse de alguma forma sentir sua presença.
Mentalmente, dizia-lhe que seu filho era um homem imperfeito que fizera
crueldades por dinheiro, mas também decente, honrado, corajoso e bastante
vivo.
Depois de um instante, a luz se apagou e o pai de Keller sumiu de
vista. Gabriel se virou e foi para a Kensington Road. Quando estava se
aproximando da Queens Gate, uma moto passou à sua direita. Ele a vira
alguns minutos antes, ao atravessar a Sloane Street, e um pouco antes disso,
no momento em que saía da Downing Street. Imaginou que o motociclista
fosse um observador do MI5. Mas agora, ao avaliar-lhe a forma das costas e a
curva generosa dos quadris, repensou sua hipótese.
Gabriel seguiu para o leste, ao longo do Hyde Park, vendo a luz

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