A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Talvez seja melhor eles acharem que Keller está morto —
comentou ela, pensativa.
— E se fosse o seu filho? Você não gostaria de saber a verdade?
— Se você está me perguntando se eu gostaria de saber que o meu
filho mata pessoas para ganhar a vida, a resposta é “não”.
O silêncio tomou a cozinha.
— Desculpe — lamentou-se Chiara depois de um tempo. — Eu não
quis que soasse mal.
— Eu sei.
Chiara colocou os cogumelos fatiados numa panela sauté e os
temperou com sal e pimenta.
— Ela chegou a ficar sabendo?
— Minha mãe?
Chiara assentiu.
— Não — falou Gabriel —, ela nunca soube.
— Mas ela deve ter suspeitado de algo. Você ficou longe por três
anos.
— Ela sabia que eu estava envolvido em um trabalho secreto e que
tinha algo a ver com Munique. Mas nunca soube que eu cometi os
assassinatos.
— Ela deve ter ficado curiosa.
— Não ficou.
— Por que não?
— O massacre de Munique foi um trauma para o país inteiro –
explicou Gabriel mas foi especialmente duro para pessoas como a minha
mãe. Uma judia alemã que sobreviveu aos campos. Ela mal conseguia ler os
jornais ou ver os funerais pela televisão: trancava-se no estúdio e pintava.
— E quando você voltou para casa, depois da Ira de Deus?
— Ela viu a morte nos meus olhos. — Gabriel se deteve, então
acrescentou: — Ela reconheceu o que estava vendo.
— Mas vocês nunca conversaram sobre aquilo?
— Nunca — respondeu Gabriel, balançando a cabeça devagar. —
Minha mãe nunca me disse o que aconteceu com ela durante o Holocausto,
e eu nunca falei o que fiz durante os três anos na Europa.
— Você acha que ela teria aprovado?
— O que ela teria pensado não era importante para mim.
— É claro que era, Gabriel. Você não é tão fatalista assim. Se fosse,

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