podemos levá-la de volta para a Inglaterra. E aí vamos para casa.
Chiara ficou em silêncio por um tempo.
— Você faz parecer tão simples... — falou ela, por fim.
— Se eles jogarem pelas minhas regras, vai ser.
Chiara colocou uma tigela de fettuccine com cogumelos no centro
da mesa e sentou na frente de Gabriel.
— Mais nenhuma pergunta?
— Só uma: o que a idosa na Córsega viu quando você pingou o azeite
na água?
Quando eles terminaram de lavar a louça, já eram quase quatro da
madrugada, portanto na Córsega iria dar cinco horas. Mesmo assim, Keller
parecia desperto e alerta ao atender. Usando um linguajar bem codificado,
Gabriel explicou o que tinha se passado na Downing Street e o que
aconteceria mais tarde naquele dia.
— Você consegue pegar o primeiro voo para Orly?
— Sem problema.
— Pegue um carro no aeroporto e vá para o litoral. Eu ligo quando
souber de algo.
— Sem problema.
Depois de desligar, Gabriel se alongou na cama ao lado de Chiara e
tentou dormir, mas em vão: cada vez que fechava os olhos, via o rosto da
mulher que tinha morrido em seus braços no Lubéron, no vale com as três
casas. Então, ficou deitado, imóvel, escutando a respiração de Chiara e o
chiado do trânsito na Bayswater Road à medida que a luz cinzenta do
amanhecer londrino invadia o quarto aos poucos.
Acordou Chiara com um café fresco às nove horas e tomou uma
ducha. Quando saiu do banheiro, Jonathan Lancaster estava na TV
apresentando sua nova iniciativa dispendiosa para ajudar as famílias
carentes da Inglaterra. Gabriel não pôde deixar de admirar a performance
do primeiro-ministro.
Naquele momento, sua carreira estava por um fio, e ainda assim ele
parecia tão assertivo e imperturbável como sempre. Inclusive, ao término do
discurso, até Gabriel se convencera de que gastar mais alguns milhões de
libras dos contribuintes resolveria os problemas da classe eternamente
desprivilegiada de Londres.
A matéria seguinte se relacionava com uma empresa russa de energia