A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

Dessa vez não houve resposta.
— E mais uma coisa: nunca mais me faça esperar cinco minutos por
uma ligação. Se fizer isso, o acordo será desfeito.
Gabriel desligou o telefone e olhou para Lancaster.
— Acho que correu tudo bem. Você não acha, primeiro-ministro?
É raro ver um homem saindo pela porta da frente do número 10 da
Downing Street vestindo calça jeans e jaqueta de couro, mas foi exatamente
isso que aconteceu às 12hl7 num dia chuvoso no começo de outubro. Já
haviam se passado cinco semanas desde que Madeline Hart desaparecera
na Córsega; oito dias desde que a fotografia e a gravação foram deixadas na
casa de Simon Hewitt; doze horas desde que o primeiro-ministro do Reino
Unido concordara em pagar 10 milhões de euros para garantir seu retorno
seguro. Obviamente, o policial que vigiava o hall de entrada não sabia de
nada disso. Ele também não reparou que o homem vestido de maneira
incomum era o espião israelense Gabriel Allon, nem que havia uma Beretta
semiautomática carregada embaixo de sua jaqueta. Por isso, ele lhe desejou
um bom dia e observou Gabriel andar até o portão de segurança, onde uma
câmera tirou sua foto. Eram 12hl9.
Fallon tinha deixado o Passat na parte descoberta do estacionamento
da Victoria Station. Gabriel se aproximou do veículo como sempre se
aproximava de carros que não eram seus: devagar, receoso. Rodeou o
automóvel, como se inspecionasse a lataria em busca de arranhões, e em
seguida derrubou de propósito as chaves no chão de tijolos vermelhos. Ao se
agachar, rapidamente analisou o chassi. Como não percebeu nada fora do
comum, levantou-se e abriu o porta-malas. A tampa se ergueu devagar,
revelando duas maletas de náilon de marcas baratas. Abriu o zíper de uma e
viu inúmeros maços de notas bem amarrados.
Pelos padrões londrinos, o trânsito àquela hora estava só
moderadamente catastrófico. Gabriel atravessou a Chelsea Bridge à uma da
tarde. Meia hora depois, já tinha deixado os subúrbios de Londres para trás e
corria pela via expressa M25. Às duas da tarde, sintonizou a Radio Four para
ouvir o noticiário. Pouca coisa havia mudado desde aquela manhã:
Lancaster ainda falava de curar os males dos pobres da Inglaterra e uma
empresa petrolífera russa ainda pretendia perfurar o mar do Norte em
busca de petróleo. Não houve nenhuma menção a Madeline Hart, nem a
um homem vestindo jeans e jaqueta prestes a pagar 10 milhões de euros a
sequestradores. Gabriel escutou a previsão do tempo mais recente e

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