24
DOVER, INGLATERRA
Quando Gabriel entrou na M20, já estava chovendo forte. Ele passou
em alta velocidade por Maidstone, Lenham Heath e Ashford, chegando ao
porto de Folkestone às três e meia. Lá, entrou na A20 e continuou rumo ao
leste, passando por uma planície aparentemente interminável com a grama
mais verde que ele já tinha visto. Por fim, subiu uma colina baixa e o mar
apareceu, escuro e revolto. A travessia prometia ser desagradável.
Quando a estrada se aproximou do mar, Gabriel teve um vislumbre
das falésias pela primeira vez, erguendo-se brancas como giz contra as
nuvens cinza-escuro. O caminho para o terminal de balsas era bem
demarcado. Gabriel foi até a bilheteria e confirmou a passagem que havia
agendado, o tempo todo de olho no Passat. Em seguida, com o bilhete na
mão, sentou-se ao volante e se juntou à fila de carros que esperavam na
linha de embarque. E não perca a balsa das 16h40. Se perder, a garota
morre... Só podia haver uma razão para uma exigência daquelas, pensou
Gabriel: os sequestradores já o estavam observando.
De acordo com as normas, os passageiros eram proibidos de
permanecer dentro dos veículos durante a travessia. Gabriel considerou
brevemente a possibilidade de levar as maletas com ele, mas decidiu que
carregá-las de um lado para outro o deixaria vulnerável demais. Então,
trancou bem o Passat, verificando o porta-malas e cada uma das quatro
portas duas vezes, para garantir que estivessem bem fechados, e seguiu para
o lounge dos passageiros. Quando a balsa saiu do terminal, foi até a
lanchonete e pediu chá com scone. Lá fora, o céu estava cada vez mais
escuro e, às 17hl5, o mar já não era mais visível. Gabriel ficou sentado por
mais cinco minutos. Em seguida, levantou-se e andou até um canto isolado
do deque de observação tomado pelo vento. Nenhum dos passageiros o
seguiu, portanto ninguém o viu derrubar um celular sobre o corrimão.
Gabriel não viu nem escutou o aparelho atingir a superfície do mar.
Permaneceu junto à grade por mais dois minutos antes de voltar para seu
assento no lounge. E lá ficou, memorizando cada um dos rostos ao redor, até
ouvir o anúncio dos alto-falantes, primeiro em inglês, depois em francês, de
que já era hora de os passageiros voltarem para os carros. Gabriel garantiu
que fosse o primeiro a chegar ao estacionamento. Ao abrir o porta-malas do