um paletó mal-ajambrado.
— Você precisa de ajuda com as malas? — perguntou. Seu tom de
voz sugeria que ajudar Gabriel era a última coisa em sua mente.
— Não, obrigado — respondeu Gabriel com entusiasmo. — Acho que
consigo dar conta.
Ele empurrou as malas de rodinhas pelo chão de linóleo. Ergueu-as
do chão e começou a subir a escadaria estreita, esforçando-se para passar a
impressão de que eram leves. Enfiou a chave na fechadura com o cuidado
de um médico manejando uma sonda. Ao entrar, encontrou o quarto vazio
e uma única lâmpada fraca acesa na mesinha de cabeceira. Empurrou as
malas para dentro, fechou a porta e sacou a Beretta, fazendo uma busca
rápida pelo closet e pelo banheiro. Por fim, certo de que estava sozinho,
passou a corrente na porta, bloqueou-a com todos os móveis do quarto e
colocou as malas debaixo da cama. Quando ele se levantou, o celular que
pegara em Calais tocou pela segunda vez.
— Muito bem — disse a mesma voz. — Agora escute com atenção.
Dessa vez, Gabriel fez várias exigências. A mulher deveria ir sozinha,
sem reforços e desarmada. Ele exigiu o direito de revistá-la — com minúcia e
intimamente, acrescentou, para garantir que não houvesse mal-entendidos.
Depois disso, ela poderia levar o tempo que quisesse para verificar se as
notas eram genuínas e se chegavam ao montante de 10 milhões de euros.
Ela podia contar o dinheiro, cheirá-lo, sentir seu gosto ou transar com ele —
Gabriel não se importava, desde que não houvesse nenhuma tentativa de
roubo. Caso a mulher fizesse isso, disse Gabriel, ela seria machucada
gravemente e o acordo, cancelado.
— E não faça ameaças estúpidas sobre matar Madeline; ameaças
insultam a minha inteligência.
— Uma hora — respondeu a voz, e a ligação caiu.
Gabriel retirou uma cadeira de espaldar reto da barricada e a colocou
ao lado da janela minúscula do quarto. Ele ficou sentado pelos 67 minutos
seguintes, observando a rua abaixo. Quarenta minutos após começar sua
vigilância, um homem passou às pressas pelo hotel com um guarda-chuva
aberto, parando apenas por tempo suficiente para tentar abrir a porta do
carona do Passat. Depois disso, não houve mais carros nem pedestres,
apenas as gaivotas circulando no alto e um bando de gatos de rua se
banqueteando no lixo do restaurante de frutos do mar vizinho ao hotel. A
espera, ele pensou. Sempre a espera.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1