A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

dias, quase sem descanso, desde o amanhecer até o fim da tarde, quando
Chiara voltava para casa. Tentou evitar as memórias do pesadelo na França,
mas o objeto da pintura, uma linda jovem banhando-se num jardim, não o
permitia. Madeline estava sempre em seus pensamentos, especialmente no
quarto dia, quando ele começou a trabalhar nos ferimentos nas mãos de
Suzana. Ali, via evidências claras das pinceladas luminosas de Bassano.
Gabriel as imitara tão imaculadamente que era quase impossível distinguir o
original do restauro. De fato, em sua humilde opinião, ele tinha até mesmo
superado o mestre em alguns pontos. Queria poder ser creditado pela alta
qualidade do trabalho, mas não seria justo: era Madeline quem o inspirava.
Gabriel se forçava a fazer uma pausa para o almoço no começo de
cada tarde, mas acabava inevitavelmente comendo na frente do
computador, vasculhando a internet em busca de notícias sobre a
investigação da morte de Madeline. Sabia que as matérias estavam longe de
serem completas, mas parecia que a polícia não tinha conhecimento de sua
participação no caso. Na imprensa britânica, também não achou nenhum
indício de que Lancaster estivesse ligado de qualquer forma ao
desaparecimento e à morte de Madeline. Aparentemente, o primeiro-
ministro e Jeremy Fallon haviam conseguido o impossível — e agora,
segundo as pesquisas, encaminhavam-se para uma vitória esmagadora.
Claro que nenhum dos dois tentou contatar Gabriel. Até Graham Seymour
aguardou três longas semanas antes de ligar. Pelo barulho ao fundo, Gabriel
imaginou que ele estivesse usando um telefone público na estação de
Paddington.
— Nosso amigo em comum envia seus cumprimentos — disse
Seymour, cauteloso. — Ele gostaria de saber se você precisa de algo.
— De uma jaqueta de couro nova — respondeu Gabriel, fingindo
estar de melhor humor.
— De que tamanho?
— Médio, com um compartimento secreto para passaportes falsos e
uma arma.
— Você pretende me contar como escapou sem ser preso?
— Algum dia, Graham.
Seymour ficou em silêncio enquanto o alto-falante anunciava um
trem para Oxford.
— Ele está grato — comentou, afinal, referindo-se a Lancaster de
novo. — Sabe que você fez o que pôde.

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