de volta à Córsega naquela mesma noite ou, o mais tardar, na manhã do dia
seguinte. O don sugeriu a Gabriel se hospedar na casa de Keller e ficar à
vontade, e disse sentir pelo que havia acontecido “lá no norte”. Keller,
obviamente, fizera um relato detalhado.
— E então, o que o traz à Córsega? — perguntou o don.
— Eu paguei uma grande quantia de dinheiro a alguém que não
entregou a mercadoria como prometido.
— Uma quantia muito grande.
— O que você faria em meu lugar?
— Para começar, eu jamais teria concordado em ajudar um homem
como Jonathan Lancaster.
— Vivemos num mundo complicado, Don Orsati.
— De fato vivemos — disse o don, num tom meio filosófico. —
Quanto ao seu problema de negócios, você tem duas opções: pode se
esforçar para esquecer o que aconteceu com a garota inglesa ou punir os
responsáveis.
— O que você faria?
— Aqui na Córsega temos um antigo provérbio que diz: um cristão
perdoa, um idiota esquece.
— Eu não sou idiota.
— Nem é cristão. Mas não o julgarei por isso.
Orsati pediu a Gabriel que se mantivesse na linha enquanto ele
lidava com uma pequena crise. Parecia que um grande carregamento de
azeite que ia para um restaurante em Zurique havia sumido. Gabriel podia
ouvir o don gritando com um subalterno em dialeto corso: “Ache o azeite, ou
cabeças vão rolar!” Em qualquer outro negócio, a ameaça poderia ter sido
descartada como um mero chilique do supervisor. Mas não na Companhia
de Azeite Orsati.
— Onde estávamos? — perguntou o don.
— Você falou algo sobre cristãos e idiotas. E estava prestes a me
cobrar um preço alto para pegar Keller emprestado.
— Ele é mesmo o meu empregado mais valioso.
— Por razões óbvias.
Orsati se calou por um momento. Gabriel podia ouvi-lo bebericar
algo.
— É importante que isso vá além do sangue — disse o don após um
instante. — Você também deve recuperar o dinheiro.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1