maioria senhoras idosas, desceram as escadas da igreja. Dentre elas, estava a
signadora. Seu olhar recaiu brevemente sobre Gabriel, o descrente; então, ela
desapareceu pela porta de sua pequena casa torta. Depois de pouco tempo,
duas mulheres foram chamá-la: uma velha viúva vestida de preto dos pés à
cabeça e uma garota de aparência consternada com 20 e poucos anos que,
sem dúvida, estava sofrendo os maléficos efeitos do occhju.
Meia hora mais tarde, as mulheres reapareceram junto a um menino
de 10 anos de cabelos encaracolados. Elas se dirigiram à sorveteria, mas a
criança se deteve para observar a partida de boules e foi até Gabriel,
segurando um pedaço de papel azul-claro dobrado em quatro. Depositou-o
na mesa do café e se afastou às pressas, como se temesse contrair uma
doença. Gabriel desdobrou o papel e, sob a luz evanescente, leu a única
linha escrita:
Preciso vê-lo imediatamente.
Gabriel guardou o bilhete no bolso do casaco e continuou sentado por
vários minutos ponderando o que fazer. Por fim, deixou algumas moedas
sobre a mesa e atravessou a praça.
Quando bateu à porta, uma voz de taquara rachada o convidou a
entrar. Ela estava sentada, sonolenta, numa poltrona desbotada, com a
cabeça pendendo para o lado, como se ainda sofresse da exaustão causada
por absorver o mal que contaminara seus últimos visitantes. Apesar dos
protestos de Gabriel, insistiu em levantar-se para cumprimentá-lo. Dessa
vez não havia hostilidade em sua expressão, apenas preocupação. A
signadora tocou-lhe a face sem dizer nada e olhou nos seus olhos.
— Seus olhos são tão verdes... Você tem os olhos da sua mãe, não é?
— Sim.
— Ela sofreu na guerra, não é mesmo?
— Foi Keller quem disse isso?
— Eu nunca falei com Christopher sobre a sua mãe.
— Sim — disse Gabriel após um momento coisas terríveis
aconteceram à minha mãe durante a guerra.
— Na Polônia?
— Sim, na Polônia.
A signadora tomou a mão de Gabriel entre as suas.
— Está quente... Você está com febre?