água, as três gotas dividiram-se antes de desaparecer. A velha assentiu com
gravidade, como se seus medos mais obscuros tivessem sido confirmados.
Então, pela segunda vez, tomou a mão de Gabriel.
— Você está queimando. Tem certeza de que está se sentindo bem?
— Acabei tomando sol ali no café.
— Na casa de Christopher — disse ela, com ar de sabedoria. —
Bebeu de seu vinho. Você traz a arma dele na cintura.
— Continue.
— Você está procurando por um homem, o homem que matou a
garota inglesa.
— Você sabe quem é ele?
— Não. Mas sei onde ele está. Escondido ao leste, na cidade dos
hereges. Você não deve pisar lá. Jamais. Se o fizer — proclamou a signadora
com firmeza —, morrerá.
Ela fechou os olhos e, logo depois, começou a chorar suavemente,
um sinal de que o mal havia se transportado do corpo de Gabriel para o dela.
Em seguida, instruiu Gabriel a repetir o teste do óleo na água. Dessa vez, o
óleo fundiu-se numa só gota. A velha sorriu de um jeito que Gabriel nunca
tinha visto.
— O que você vê? — perguntou Gabriel.
— Tem certeza de que quer saber?
— Sim, é claro.
— Vejo uma criança — respondeu ela sem hesitar.
— De quem?
A signadora deu um tapinha na mão de Gabriel.
— Volte para a casa. Seu amigo Christopher voltou para a Córsega.
Quando chegou à casa, Gabriel encontrou Keller parado em frente à
geladeira aberta. Ele vestia um terno cinza-escuro, amassado pela viagem, e
uma camisa branca desabotoada na altura do pescoço. Pegou a garrafa de
Sancerre pela metade, exibiu-a com uma sacudidela e derramou um bocado
numa taça.
— Dia difícil no trabalho, docinho? — perguntou Gabriel. Brutal. —
Ele ergueu a garrafa, oferecendo-a. — Servido?
— Já tomei bastante.
— Dá para ver.
— Como foi sua viagem?
— A ida e a volta foram infernais, mas todo o resto correu
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1