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CÓRSEGA — LONDRES
Eles jantaram no vilarejo, depois Gabriel se acomodou num quarto de
hóspedes no andar inferior da casa. As paredes eram brancas, a roupa de
cama era branca, a poltrona e o escabelo eram revestidos de pano de vela. A
falta de cor no quarto atrapalhou o seu sono. Naquela noite, Gabriel sonhou
que corria por um campo de neve interminável atrás de Madeline. Quando
ela arranhava as costas da mão, o sangue que fluía do machucado era
branco.
Pela manhã, tomaram o primeiro voo para Paris e, de lá, voaram para
Heathrow. Keller passou pela alfândega com um passaporte francês.
Gabriel, que o esperava na sala de chegadas, achou que aquele era um jeito
um tanto quanto ignóbil de um inglês voltar para a sua terra natal. Eles
foram para o lado de fora e esperaram vinte minutos por um táxi, que se
arrastou pelo centro londrino, enfrentando tráfego lento e chuva.
— Agora você sabe por que não moro mais aqui — comentou Keller
em francês, em voz baixa, enquanto olhava pela janela molhada e via os
subúrbios cinzentos de Londres.
— A umidade fará maravilhas por sua pele — respondeu Gabriel na
mesma língua. — Você está parecendo um pedaço de couro.
O táxi os deixou no Marble Arch. Gabriel e Keller caminharam uma
curta distância pela Bayswater Road em direção a um prédio com vista para
o Hyde Park. O apartamento estava exatamente do jeito que ele o deixara
quando partira para a França com o dinheiro do resgate. Até a louça do café
da manhã de Chiara ainda estava na pia. Gabriel largou a mala no quarto
principal e pegou uma arma do cofre de chão. Ao olhar para cima, viu
Keller parado diante da janela da sala de estar.
— Você consegue ficar sozinho por algumas horas? — perguntou
Gabriel.
— Sem problemas.
— Algum plano?
— Acho que vou fazer um passeio de barco pelo Serpentine e dar
uma volta por Covent Garden para fazer umas compras.
— Talvez fosse melhor ficar aqui. Não dá para saber quem você pode