A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Uma vez — respondeu, apontando para a mulher na tela, como
se falasse dela e não de uma mulher morta. — Eu estava trabalhando em
uma matéria sobre os esforços do Partido no sentido de estabelecer uma
ligação com os eleitores das minorias. Jeremy me mandou encontrar
Madeline. Eu a achei bonita até demais, mas também muito inteligente. Às
vezes parecia me entrevistar, e não o contrário. Parecia que eu estava... —
Ela mergulhou no silêncio, como se buscasse a palavra certa. — Parecia que
eu estava sendo recrutada... Para quê, não faço ideia.
Gabriel ouviu passos e, ao virar-se para trás, viu um casal de meia-
idade entrar na sala. O homem usava óculos escuros e era calvo, com cabelos
apenas nas laterais da cabeça. A mulher era muitos anos mais nova e
segurava um guia do museu aberto na página errada. Eles iam de uma
pintura a outra sem dizer nada, parando na frente de cada tela por apenas
alguns segundos antes de se deslocarem mecanicamente para a próxima.
Gabriel observou-os entrarem na sala vizinha. Em seguida, desceu com
Samantha para o pátio interno localizado no centro do edifício. Em dias
quentes, era um lugar de encontro popular entre os londrinos que
trabalhavam nos prédios de escritórios situados ao longo do Strand. Mas
agora, sob a chuva fria, as mesinhas metálicas estavam vazias e a fonte
dançante esguichava água com a tristeza de um brinquedo em uma sala
sem crianças.
— Você falou bem de Madeline nas matérias depois de seu
desaparecimento comentou Gabriel enquanto eles caminhavam devagar
pelo pátio.
— Tudo verdade. Ela era extremamente calma e autoconfiante para
alguém com o seu passado. — Samantha franziu a testa, pensativa. — Eu
nunca entendi o comportamento da mãe dela nos dias que se seguiram ao
desaparecimento. A maioria dos pais de pessoas desaparecidas fala com a
imprensa constantemente. Mas ela, não: fechou o bico e permaneceu
afastada durante todo o processo. O irmão de Madeline, também.
— O que você quer dizer com isso?
— Eu tentei contatar a mãe para escrever a matéria — ela apontou
com a cabeça para o pedaço do jornal no bolso de Gabriel —, mas ninguém
atendia na casa deles. Em momento algum. Até que, por fim, fui até a
maldita Essex e sentei-me à porta. Um vizinho me disse que eles não eram
vistos desde pouco tempo depois do funeral.
Gabriel ficou em silêncio, mas, em sua cabeça, calculava o tempo de

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