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BASILDON, ESSEX
A cidade tinha sido criada após a Segunda Guerra Mundial como
parte #*% de um grande plano para reduzir a superpopulação nos
assentamentos informais do East End, em Londres, que haviam sido
destruídos por bombas. O resultado foi o que os planejadores urbanos
chamaram de Cidade Nova: sem história, sem alma, sem outro propósito
senão abrigar a classe operária. O centro comercial de Basildon era uma obra-
prima da arquitetura neossoviética, assim como a moradia popular que se
erguia em um dos lados da cidade, parecendo uma fatia gigante de torrada
queimada. A uns 800 metros ao leste estava um grupo de prédios e sobrados
dilapidados conhecidos como Lichfields.
Todas as ruas tinham nomes agradáveis como Avon, Norwich,
Southwark, mas o asfalto estava rachado e ervas daninhas tomavam conta
das quadras. Algumas poucas casas tinham jardins gramados, mas, junto à
pequenina construção no fim da Blackwater Way, havia apenas uma área de
concreto toda quebrada, onde um carro velho costumava ficar estacionado.
O andar de baixo era revestido de chapisco, e o de cima, de tijolo marrom.
As três pequenas janelas eram todas acortinadas e estavam às escuras, e
nenhuma luz brilhava sobre a inóspita porta da frente.
— Eles trabalham? — perguntou Keller, enquanto passavam
devagar de carro diante da casa pela segunda vez.
— A mãe trabalha algumas horas por semana na farmácia Boots, no
centro comercial. O irmão é um bêbado profissional.
— E você tem certeza de que não há ninguém aí dentro?
— Você está vendo algum sinal de presença humana?
— Talvez eles gostem do escuro.
— Ou talvez sejam vampiros.
Gabriel parou numa vaga na rua e desligou o carro. Logo ao lado da
janela de Keller, havia um aviso alertando que toda aquela área estava 24
horas por dia sob a vigilância de um circuito interno de televisão.
— Estou com um mau pressentimento.
— Você acabou de matar um homem por dinheiro.
— Não na frente das câmeras.