as feições largas e achatadas dos pais de Madeline e tentou imaginar como
eles teriam sido capazes de produzir um rosto tão belo quanto o dela.
Madeline era um erro da natureza, pensou. Era filha de um deus diferente.
Gabriel deixou a sala de estar e, passando por uma pequena sala de
jantar, entrou na cozinha. A louça suja se empilhava nas bancadas e havia
uma poça de água oleosa na pia. O ar estava tomado pelo cheiro de
podridão. Abriu um dos armários no nível do chão e encontrou uma lixeira
abarrotada de comida estragada. Havia mais na geladeira. Ele imaginou o
que poderia tê-los motivado a deixar a casa daquela forma.
Voltou para o hall de entrada e subiu as escadas estreitas que
levavam ao segundo andar. Eram três quartos: dois pequenos cômodos do
lado esquerdo da casa e um maior à direita, que pertencia à mãe de
Madeline. A cama de casal estava bagunçada e uma corrente de vento frio
soprava pela janela aberta que dava vista para o pedaço de terra revolvida
que era o quintal. Gabriel abriu a porta finíssima do armário e iluminou o
interior. Havia roupas penduradas em cabides, assim como roupas
empilhadas ordenadamente na prateleira de cima. Examinou a cômoda:
todas as gavetas estavam lotadas, exceto a primeira da esquerda — onde
uma mulher costuma guardar papéis pessoais e lembranças. Agachando-se,
apontou o feixe de luz para debaixo da cama, mas não viu nada além de
poeira. Numa das mesinhas de cabeceira, ao lado de um copo vazio, viu o
telefone. Levou-o ao ouvido, mas não escutou o sinal de linha. Apertou o
botão de reprodução na secretária eletrônica. Não havia recados.
Gabriel cruzou o corredor e espiou dentro de um dos quartos
menores. Apenas as paredes estavam intactas, revestidas com as imagens de
costume — celebridades do futebol, modelos, carros que a pessoa jamais
poderia comprar. No ar, pairava um cheiro masculino desagradável que
Gabriel tivera a felicidade de não sentir desde que deixara o Exército.
Vasculhou o quarto rapidamente, mas não descobriu nada fora do comum
— nada exceto o fato de que não continha nenhum objeto, sequer um
papel, com o nome da criatura que o habitava.
O último quarto era o de Madeline. Não da amante de Jonathan
Lancaster, nem da mulher devastada que Gabriel encontrara na França,
mas a Madeline que de alguma forma sobrevivera a uma infância difícil
naquela triste casinha. Parecia a Gabriel que ela passara por tudo da mesma
forma que pelo cativeiro: com asseio e ordem. Sua cama fora feita com
esmero; a pequena escrivaninha de garota colegial estava pronta para uma
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1