A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

inspeção. Sobre ela, havia uma série de livros clássicos — Dickens, Austen,
Forster, Lawrence. Os volumes pareciam ter sido lidos muitas vezes, pois
tinham inúmeras passagens sublinhadas e anotações feitas em uma letra
miúda e precisa. Gabriel estava prestes a deslizar um dos livros, Uma janela
para o amor, para dentro do casaco, quando o celular vibrou discretamente.
Ele atendeu na mesma hora.
— Temos companhia — avisou Keller.
— Quantos?
— Parece ser uma pessoa só, mas não posso afirmar com certeza.
Gabriel abriu as cortinas diáfanas do quarto de Madeline uma fração
de centímetro e viu uma mulher caminhando pela Blackwater Way debaixo
de um guarda-chuva. Quando ela passou pelo facho de luz de um poste, ele
vislumbrou seu rosto. Era familiar... Então, no instante em que a mulher
dobrou na entrada de concreto, Gabriel lembrou: ela aparecera duas vezes
na igreja nas montanhas do Lubéron fazendo o sinal da cruz como se não
tivesse esse costume. Por algum motivo, agora inseria uma chave na porta
da casa de Madeline Hart.
Gabriel desligou o telefone e sacou a arma. Sentiu-se tentado a
descer as escadas e confrontar a mulher de imediato, mas decidiu que seria
melhor esperar. Em algum momento, pensou, ela revelaria quem era e por
que estava ali, de preferência sem nem perceber que o fizera. Esse era
sempre o melhor jeito de obter informações — sem que o alvo soubesse.
Como pregava Shamron, era melhor que um espião coletasse dados como
um batedor de carteiras, e não como um assaltante.
Gabriel permaneceu imóvel no quarto de Madeline, com o tambor da
arma reconfortantemente pressionado contra a própria face, enquanto a
mulher entrava e fechava a porta. Ela emitiu uma única sílaba, que Gabriel
não pôde decifrar. Então, veio uma série de pequenos ruídos, sugerindo que
a mulher estava pegando a correspondência espalhada e colocando-a num
saco plástico. Em seguida, ela foi para a sala de estar, onde ficou por
aproximadamente dois minutos. Depois, entrou na cozinha e emitiu a
mesma sílaba de antes. Gabriel suspeitava que fosse uma vulgaridade em
alguma língua como o hebraico, o francês, o italiano ou o alemão. Imaginava
que a mulher também estivesse vasculhando a casa.
Quando os passos da visitante alcançaram o pé da escada, Gabriel foi
tomado pela indecisão. Se estivesse certo sobre as intenções da mulher, ela
certamente entraria no quarto de Madeline. Olhou em volta para ver se

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