havia algum lugar para se esconder, mas nada pareceu adequado. O quarto
era pouco maior do que a cela na qual Madeline ficara presa. Conforme os
passos da mulher foram se aproximando, Gabriel decidiu que não tinha
outra escolha a não ser sair dali. Mas para onde? O banheiro era logo do
outro lado do corredor. Enquanto entrava nele sem fazer nenhum barulho,
imaginou o que Shamron pensaria se visse o futuro diretor da inteligência
israelense naquela situação. Ele aprovaria, pensou Gabriel. Na verdade,
tinha certeza de que o grande Ari Shamron já havia se escondido em lugares
muito mais degradantes profissionalmente do que o banheiro de uma
moradia popular em Basildon.
Deixou a porta um pouquinho entreaberta — não mais que meio
centímetro — e segurou a arma com os braços estendidos enquanto a
mulher terminava de subir as escadas. Ela entrou no quarto maior primeiro
e, a julgar pelo barulho de gavetas se abrindo e portas batendo, vasculhou-o
de cima a baixo. Cinco minutos depois, reapareceu e passou pelo banheiro
sem se deter, aparentemente sem saber que havia uma arma apontada para
sua cabeça. Ela vestia o mesmo casaco impermeável amarronzado que
estava usando na França, mas seu penteado era um pouco diferente. Em
sua mão esquerda havia uma sacola da Marks & Spencer. Parecia conter não
só a correspondência.
Quando ela entrou no quarto de Madeline, a procura subitamente
passou a ser violenta. Era uma busca profissional, pensou Gabriel, ouvindo
com atenção. Uma busca agressiva... Ela arrancou roupas, lençóis, colcha,
fronha, esvaziou as gavetas no chão. Por fim, ouviu-se um estalido seco,
como de madeira, seguido por um denso silêncio, que foi quebrado pouco
depois pela voz da mulher, baixa e calma, do tipo que se usa para reportar
notícias a um superior através de um aparelho que transmite sinais em
ondas. Gabriel não compreendia o que ela estava dizendo — ele não
entendia bem línguas eslavas —, mas tinha certeza de uma coisa: a mulher
falava em russo.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1