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BASILDON, ESSEX
O carro da mulher, um Volvo sedã, encontrava-se estacionado em
frente do menor prédio de Lichfields, do outro lado da rua. Ela andou direto
até ele, segurando a sacola da Marks & Spencer na mão esquerda com certa
dificuldade; devia estar pesada. A direita empunhava o guarda-chuva, que
era um mero acessório, pensou Gabriel, observando-a da janela de Madeline,
pois a chuva havia parado. Depois de abrir a porta do automóvel, jogou a
sacola no banco do carona e entrou, deixando o guarda-chuva aberto até
que estivesse segura dentro do carro. O motor hesitou um pouco antes de
voltar à vida com uma espécie de tosse. Esperou até chegar aos limites da
propriedade para ligar os faróis. Dirigia rápido, mas com cuidado, como uma
profissional.
Gabriel deu mais uma olhada na destruição causada pela mulher no
quarto de Madeline e apressou-se escada abaixo. Quando chegou à porta de
entrada,
Keller já havia manobrado o carro e o esperava na rua. Gabriel
entrou depressa e fez um meneio de cabeça, para que seguissem a mulher.
— Mas tenha cuidado: ela é boa.
— Boa como?
— No nível da Central Moscovita.
— Do que você está falando?
— Eu posso estar errado, mas acredito que aquela mulher seja da
KGB.
Tecnicamente, não havia mais KGB, é claro; ela fora dissolvida pouco
após o colapso do antigo império soviético. A Federação Russa possuía dois
serviços de inteligência: o FSB e o SVR. O primeiro lidava com assuntos
internos: contrainteligência, contraterrorismo, a mafiya e os ativistas pró-
democracia corajosos ou estúpidos o suficiente para desafiar os homens que
agora governavam a Rússia de dentro dos muros do Kremlin.
O SVR era o serviço secreto russo no exterior. Ele comandava sua
rede internacional de espiões do mesmo quartel-general isolado em
Yasenevo que servira de escritório central do Primeiro Diretório Geral da
KGB. Os oficiais do SVR ainda o chamavam de Central Moscovita, e não é