A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

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CHEYNE WALK, CHELSEA


Viktor Orlov nunca se mostrou relutante em falar sobre dinheiro. Na
verdade, raramente falava de qualquer outro assunto. Ele se gabava de
pagar 10 mil dólares por cada um dos ternos e de suas camisas, que eram as
melhores do mundo. Dizia que seu relógio de diamantes e ouro estava entre
os mais caros já produzidos e, ainda por cima, possuía o segundo exemplar
dele, pois havia destruído o primeiro na Suíça, ao batê-lo contra um pinheiro
enquanto esquiava. “Foi burrice minha”, falou a um tabloide britânico
depois da perda multimilionária. “Esqueci de tirar o maldito relógio antes de
sair do chalé.”
Seu vinho preferido era o Château Pétrus, o famoso Pomerol que ele
bebia como se fosse água. Era um pouco cedo, até para o anfitrião, então
tomaram chá. Orlov bebeu o seu à moda russa, através de um cubo de
açúcar preso entre os dentes da frente. Seu braço estava jogado na direção
de Gabriel, sobre o encosto de um sofisticado sofá de brocado, e ele girava os
óculos caros pela haste, um gesto que sempre repetia ao falar sobre a Rússia.
Não o país da sua infância ou no qual servira como cientista nuclear,
mas o que chegara ao mundo tropeçando, após o colapso da União Soviética.
A Rússia sem lei, bêbada, confusa, perdida. Ao seu povo traumatizado fora
prometida uma segurança que iria do berço ao túmulo. Agora, de repente,
viam-se obrigados a lutar pela sobrevivência. Darwinismo social dos mais
ferozes. Os fortes transformavam os fracos em presas, os fracos passavam
fome e os oligarcas reinavam, soberanos — os novos czares russos, os novos
komissary. Eles marchavam por Moscou em caravanas à prova de balas,
cercados por seguranças fortemente armados. À noite, os guarda-costas
brigavam uns com os outros nas ruas.
— Era o Leste Selvagem — disse Orlov, reflexivo. — Era uma
loucura.
— Mas você adorava — replicou Gabriel.
— E como não adorar? Nós éramos deuses.
Logo cedo em sua carreira como capitalista, Orlov comandava o
império nascente sozinho e com mão de ferro. Mas, depois da aquisição da
Ruzoil, percebeu que precisava de um segundo comandante. O escolhido foi
Gennady Lazarev, um brilhante matemático teórico com quem havia
trabalhado no programa soviético de armas nucleares. Ele não sabia nada

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