A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

Agora, o olho estava cravado no cálice de vinho tinto Pomerol. Orlov
ainda não tinha bebido. Ele também não havia respondido à pergunta um
tanto quanto direta feita por Gabriel no minuto anterior: “Por que Jeremy
Fallon?”
— Por que não ele? — disse o russo, enfim. — Fallon era o cérebro de
Lancaster. Lancaster era a marionete de Fallon. Ele puxava a corda e
Lancaster acenava. E o melhor: estava vulnerável a uma aproximação.
— Como assim?
— Ele não tinha onde cair morto. Era mais pobre que rato de igreja.
— Quem o apontou como alvo?
— Disseram-me que a indicação veio da rezidentura do SVR em
Londres.
Rezidentura era a palavra usada pelo SVR para descrever suas
operações em embaixadas locais. O rezident era o chefe de posto; a
rezidentura, o próprio posto. Esse era um resquício da época da KGB. Assim
como a maioria das coisas relacionadas ao SVR.
— Como eles agiram?
— Lazarev e Fallon passaram a se encontrar em todos os lugares
errados: festas, restaurantes, conferências, férias. Segundo boatos, Fallon
passou um longo fim de semana na casa de Lazarev em Gstaad e fez um
cruzeiro pelas ilhas gregas em seu iate. Eu soube que eles se deram muito
bem, mas isso não me surpreende: Gennady consegue ser um canalha
encantador quando quer.
— Mas houve mais do que uma ofensiva charmosa, não é, Viktor?
— Muito mais.
— Quanto?
— Cinco milhões de euros em uma conta bancária anônima na Suíça,
cortesia do Kremlin. Tudo limpo. Sem nenhum rastro. O SVR cuidou dos
arranjos.
— Quem disse?
— Prefiro não dizer.
— Ora, vamos, Viktor.
— Você claramente tem suas fontes, Sr. Allon, e eu tenho as minhas.
— Pelo menos diga de que lado vêm as suas informações.
— Do Leste — respondeu Orlov, querendo dizer que era de uma de
suas muitas fontes em Moscou.
— Prossiga — pediu Gabriel.

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