A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

bocas.
No fim da tarde, enquanto as cercas vivas se fundiam à escuridão e
a temperatura caía para um frio cortante, três carros chegaram à isolada
casa tudoriana. Os veículos eram todos de marcas e modelos diferentes, tão
distintos quanto os nove agentes que deles saíram, cansados do longo dia de
viagem clandestina. Nos corredores e salas de reunião do King Saul
Boulevard, eles eram conhecidos pelo codinome Barak — “relâmpago” em
hebraico devido a sua capacidade de se reunir e atacar rapidamente. Os
americanos, com inveja da inigualável lista de realizações operacionais,
chamavam-nos de “a equipe de Deus”.
Chiara entrou na casa primeiro, seguida por duas mulheres. Dina
Sarid, pequena e de cabelos escuros, era a maior especialista em terrorismo
do Escritório e tinha uma mente analítica brilhante que a tornava útil em
qualquer tipo de operação. Lembrando uma modelo do pintor Rubens, alta e
com cabelos cor de areia, Rimona Stern havia começado sua carreira na
inteligência militar, mas agora fazia parte da unidade do Escritório que
cuidava exclusivamente do programa nuclear iraniano. Por acaso, também
era sobrinha de Shamron. Aliás, as memórias mais ternas que Gabriel tinha
de Rimona eram de uma criança destemida desembestando em um patinete
pela ladeira íngreme da casa de seu famoso tio em Tiberíades.
Depois delas, veio uma dupla de agentes de campo versáteis
chamados Oded e Mordecai, seguidos por Yaakov Rossman, uma figura
rígida de cabelos pretos e rosto marcado por cicatrizes, que havia se
especializado em recrutar e manter espiões árabes. Também chegou Yossi
Gavish, oficial sênior do Departamento de Pesquisas, a divisão de análise do
Escritório. Nascido em Londres e educado em Oxford, ainda falava hebraico
com sotaque britânico.
Do último carro saíram dois homens — um de meia-idade e outro na
flor da vida. O mais velho era ninguém menos do que Eli Lavon: o famoso
arqueólogo caçador de bens saqueados no Holocausto e de nazistas
criminosos de guerra, além de um verdadeiro artista em termos de
vigilância. Como de costume, vestia muitas camadas de roupas que não
combinavam. Tinha cabelos ralos que desafiavam qualquer tipo de penteado
e olhos vigilantes como os de um terrier. Seus mocassins de camurça não
fizeram barulho algum quando ele cruzou o hall de entrada e mergulhou no
caloroso abraço de Gabriel. Lavon fazia praticamente tudo em silêncio.
Certa vez, Shamron dissera que o lendário espião do Escritório era capaz de

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