— Sobre um novo programa de televisão em Israel.
— Você está me dizendo a verdade?
— Não.
O humor deles estava mais sombrio do que de costume, pois o
espectro de Ivan Kharkov ainda os assombrava. Ninguém mencionou seu
nome durante o jantar. Em vez disso, referiam-se apenas à matsav, a
situação. Yossi, profundamente erudito em estudos clássicos e história, servia
de guia. Ele via um mundo girando descontroladamente. As promessas da
grande Primavera Árabe haviam sido expostas como mentiras, dizia ele, e
em breve haveria uma escalada do islamismo radical, estendendo-se da
África Subsaariana até a Ásia Central. Os Estados Unidos estavam
quebrados, cansados, e não tinham mais condições de liderar nada. Era
possível que essa nova desordem mundial turbulenta produzisse um eixo do
século XXI que tivesse à frente China, Irã e, claro, Rússia. Sozinhos, rodeados
por um mar de inimigos, estariam Israel e o Escritório.
Ao fim da explicação, todos tiraram os pratos e foram para a sala de
estar, onde Gabriel enfim discorreu sobre o motivo para chamá-los à
Inglaterra. Eles já sabiam partes da história. Agora, em pé à frente deles, com
a lareira a gás queimando atrás de si, Gabriel terminava de pintar o quadro
com agilidade. Relatou tudo o que havia acontecido, começando pela busca
desesperada por Madeline Hart na França e terminando com o acordo na
noite anterior em Hampstead Heath. Apenas um aspecto do caso foi
contado fora da ordem cronológica: o breve encontro com Madeline Hart
nas horas que precederam sua morte. Ele prometera a Madeline que a traria
de volta para casa em segurança. Após o fracasso, pretendia manter sua
palavra desfazendo o que havia sido uma operação russa do início ao fim.
Para conseguir tal feito, precisariam inserir Mikhail na KGB Óleo e Gás.
Depois, achariam evidências de que Madeline Hart fora assassinada para
que fosse concretizado o roubo do petróleo do mar do Norte.
— Como? — perguntou Lavon, incrédulo, quando Gabriel terminou
de falar. — Por Deus, como vamos colocar Mikhail numa companhia de
petróleo pertencente ao Kremlin e administrada pela inteligência russa?
— Nós daremos um jeito — afirmou Gabriel. — Nós sempre damos.
O trabalho começou de fato na manhã seguinte, quando a equipe de
Gabriel passou a se embrenhar na Volgatek. No começo, o grosso do material
vinha de fontes públicas, como jornais de negócios, comunicados de
imprensa e artigos acadêmicos escritos por pessoas especializadas na confusa
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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