tarefas caseiras mais básicas. Cafeteiras, liquidificadores, torradeiras, todos
esses utensílios eram um mistério para ele. Gilah, sua esposa resignada,
costumava brincar que, se o grande Ari Shamron fosse deixado sozinho, seria
capaz de morrer de fome numa cozinha cheia de comida.
Gabriel acendeu o fogão e voltou ao trabalho. Shamron ficou parado
no vão das portas da varanda, fumando. O fedor do tabaco turco logo
prevaleceu sobre o odor do solvente.
— Isso é mesmo necessário? — questionou Gabriel.
— É.
— O que está fazendo em Jerusalém?
— O primeiro-ministro queria dar uma palavra.
— Sério?
Shamron olhou para Gabriel de cara fechada através da cortina de
fumaça cinza-azulada.
— Por que um pedido do primeiro-ministro para me ver
surpreenderia você?
— Porque...
— Eu sou velho e irrelevante? — completou Shamron.
— Você é exagerado, impaciente e às vezes irracional. Mas você
nunca foi irrelevante.
Shamron assentiu. A idade havia lhe dado a habilidade de, pelo
menos, perceber suas falhas, apesar de ter roubado o tempo necessário para
que ele pudesse remediá-las.
— Como ele está? — perguntou Gabriel.
— Como você pode imaginar.
— Sobre o que vocês conversaram?
— Nossa conversa foi abrangente e franca.
— Isso quer dizer que vocês gritaram um com o outro?
— Eu só gritei com um primeiro-ministro.
— Qual? — indagou Gabriel, realmente curioso.
— Golda. Foi depois de Munique. Eu lhe disse que precisávamos
mudar as nossas táticas, aterrorizar os terroristas. Dei a ela uma lista de
nomes de homens que deviam morrer. Golda não queria saber daquilo.
— Então você gritou com ela?
— Não foi meu melhor momento.
— O que ela fez?
— Gritou também, claro. Mas, no fim das contas, compreendeu meu
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1