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GRAYSWOOD, SURREY
O aprendizado de Mikhail Abramov, futuro empregado da Volgatek,
começou às nove da manhã do dia seguinte. Seu primeiro tutor foi ninguém
menos do que Viktor Orlov. Apesar das objeções de Gabriel, ele insistira em
viajar até Surrey em sua limusine Mercedes Maybach, seguida por um Land
Rover repleto de seguranças. O pequeno comboio causou certa comoção em
Grayswood e, por boa parte do dia, circularam boatos pelo vilarejo de que o
ocupante do carro era o próprio primeiro-ministro. Mas Jonathan Lancaster
não estava nem perto de Surrey; naquela manhã, ele fazia campanha em
Sheffield. As últimas pesquisas lhe davam uma boa dianteira sobre o
candidato da oposição. O analista político mais famoso da Grã-Bretanha
agora previa uma vitória esmagadora de proporções históricas.
Orlov voltou à casa segura na manhã seguinte, e ainda na outra.
Suas aulas refletiam sua personalidade singular: brilhante, arrogante, cheia
de opiniões, condescendente. Ele falava em inglês com Mikhail na maior
parte do tempo, fazendo incursões ocasionais no russo que apenas Eli Lavon
podia compreender. Às vezes, também misturava as duas línguas em um
dialeto bizarro que a equipe apelidou de “rusglês”. Incansável e irritante, era
impossível não amá-lo. Orlov em ação era uma força a ser respeitada.
Ele começou suas aulas com uma lição de história: a vida sob o
comunismo soviético, a queda de um império, a era sem lei dos oligarcas.
Para surpresa de todos, Orlov admitiu que ele e os outros barões ladrões da
Rússia haviam semeado a própria destruição ao enriquecerem muito em
muito pouco tempo. Dessa forma, eles tinham atraído as circunstâncias que
levaram à volta do autoritarismo. O atual presidente da Rússia era um
homem sem ideologia ou crença que não o exercício do poder pelo poder.
— É um fascista em tudo menos no nome — disse Orlov. — E fui eu
que o criei.
A etapa seguinte da instrução apressada de Mikhail começou no
quarto dia, quando ele cursou o que Lavon descreveu como o programa de
MBA mais curto da história. Seu professor era de Tel Aviv, mas havia
frequentado a Escola de Negócios Wharton e trabalhado por pouco tempo
na ExxonMobil antes de retornar para Israel. Por sete longos dias e noites,
ensinou a Mikhail o básico de administração de negócios: contabilidade,
estatística, marketing, finanças corporativas, gerenciamento de risco. O