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COPENHAGUE
Cinco dias de ansiedade depois, os senhores do petróleo dos quatro
cantos do mundo começaram a chegar a Copenhague: havia árabes sauditas
e dos emirados, azerbaidjanos e cazaques, brasileiros e venezuelanos,
americanos e canadenses. Os ativistas contra o aquecimento global estavam
previsivelmente chocados com o encontro, e um grupo alegava, de forma
histérica, que o carbono emitido pela própria conferência acabaria
submergindo uma aldeia em Bangladesh. Os emissários não pareciam notar.
Eles chegaram a Copenhague a bordo de jatinhos particulares e suas
limusines blindadas rugiam pelas ruas pitorescas da cidade. Talvez um dia o
petróleo acabasse e o planeta ficasse quente demais para abrigar vidas
humanas. Mas, pelo menos por enquanto, os extratores de combustíveis
fósseis ainda reinavam soberanos.
A competição pelos serviços de Copenhague era intensa. Era
impossível reservar mesas para jantares e o Hotel d’Angleterre — um prédio
branco monumental como um transatlântico de luxo com vista para a ampla
Praça Nova do Rei — estava completamente lotado. Orlov e Mikhail
chegaram à sua graciosa entrada em meio a uma forte nevasca e foram
acompanhados por um gerente a duas suítes vizinhas em um dos andares
superiores. A de Mikhail continha uma bandeja de guloseimas
dinamarquesas e um Dom Pérignon num balde de gelo. Da última vez que
ficara em um hotel a serviço do Escritório, ele havia usado uma garrafa de
champanhe para machucar o próprio joelho, em nome de um disfarce. Já
nessa nova operação, certamente seu papel exigia que tomasse uma ou duas
taças.
No momento em que estava tirando a rolha, ouviu uma discreta
batida à porta — algo curioso, pois Mikhail tinha pendurado o aviso de NÃO
PERTURBE antes de dar uma generosa gorjeta para o carregador. Abriu a
porta devagar e, por cima da trava de segurança, viu um homem de porte
médio parado no corredor. Ele vestia um casaco de lã de colarinho alemão,
de comprimento mediano, e um chapéu tirolês de feltro. Seu cabelo era
grisalho e brilhante, e viam-se olhos castanhos por trás dos óculos. Com a
mão direita, segurava uma valise de couro flexível, arranhado e desgastado.
— Como posso ajudá-lo? — perguntou Mikhail.
— Abrindo a porta — respondeu Gabriel com suavidade.