A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

tempestade de areia na Praça Nova do Rei. Um sedã Mercedes Classe E
esperava encostado no meio-fio. Ao lado da porta traseira aberta estava um
russo de 2,5 metros que tinha cara de Igor.
— Aonde vamos?— perguntou Mikhail, conforme o carro arrancava
em uma guinada.
— Jantar — grunhiu Igor, o motorista.
— Ah — disse Mikhail em voz baixa —, bom saber.
O motorista russo não ouviu o comentário de Mikhail, mas Gabriel,
sim. Ele estava ao volante de um sedã Audi, parado em uma rua secundária
próxima à entrada do hotel. Keller se achava ao seu lado, com um tablet
apoiado nos joelhos. Na tela havia um mapa de Copenhague, e a posição de
Mikhail era representada por uma luz azul piscante, que, naquele momento,
afastava-se rapidamente da Praça Nova do Rei em direção a uma região da
cidade pouco conhecida por seus restaurantes. Gabriel deu partida na
ignição sem pressa. Olhou para a luz azul e a seguiu com cautela.
Logo ficou claro que Mikhail e Lazarev não jantariam em
Copenhague naquela noite. Isso porque, poucos minutos após deixar o hotel,
o grande Mercedes preto se encaminhou para fora da cidade a uma
velocidade que sugeria que Igor estava acostumado a dirigir na neve.
Gabriel não precisava acompanhar o ritmo alucinado do carro, pois a luz
azul no tablet de Keller dizia tudo o que ele precisava saber.
Depois de passar por todos os distritos do sul de Copenhague, a luz
entrou na via expressa E20 e seguiu para o sul, rumo à região da Dinamarca
conhecida como Zelândia. Quando a rodovia voltou-se para o interior, em
direção à antiga cidade mercante de Ringsted, a luz afastou-se dela e foi
para a orla marítima. Gabriel e Keller fizeram o mesmo e se viram em uma
pequena estrada de duas pistas, ladeada pelas águas negras da baía de Koge
à esquerda e pelos campos nevados à direita. Seguiram na via por vários
quilômetros até depararem com uma série de casinhas de veraneio
agrupadas ao longo de uma praia pedregosa assolada pelo vento, onde a luz
enfim parou de se mover.
Gabriel parou no acostamento e aumentou o volume do seu fone.
Ouviu a porta do carro se abrindo, passos sobre paralelepípedos cobertos de
neve e o ribombar de bate-estaca do coração nervoso de Mikhail.
O chalé estava entre os melhores do local. Tinha uma entrada de
carros em forma de U, uma cobertura de telhas vermelhas para automóveis
e um jardim com terraço emoldurado por sebes podadas e pequenas e

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