A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

robustas muretas de tijolos. Doze degraus levavam a uma varanda com uma
balaustrada branca; duas árvores em vasos postavam-se como sentinelas em
cada lado da porta de vidro. Enquanto Mikhail se aproximava, a porta se
abriu e Lazarev saiu à varanda para cumprimentá-lo. Vestia um pulôver de
gola alta e um cardigã grosso de estilo nórdico.
— Nicholas! — bradou, como a um parente surdo. — Entre antes
que morra de frio. Desculpe-me por arrastá-lo até aqui, mas nunca me senti
confortável fazendo negócios sérios em restaurantes e hotéis.
Ele ofereceu a mão a Mikhail e puxou-o para dentro, como se
resgatasse um homem que se afogava. Depois de fechar depressa a porta,
pegou o casaco de Mikhail e passou um momento admirando
cuidadosamente o prêmio que havia conquistado. Apesar do poder e da
riqueza, Lazarev ainda parecia um cientista do governo. De óculos
arredondados e testa franzida, tinha o ar de um homem que estava
eternamente num embate para resolver uma equação.
— Foi difícil escapar de Viktor?
— Nem um pouco — respondeu Mikhail. — Na verdade, acho que
ele até ficou feliz de se livrar de mim por algumas horas.
— Vocês parecem se dar muito bem.
— E nós nos damos.
— Mas, ainda assim, você veio — observou Lazarev.
— Senti que devia.
— Por quê?
— Porque, quando um homem como Gennady Lazarev solicita um
encontro, é uma boa ideia aceitar.
As palavras de Mikhail obviamente agradavam a Lazarev. Ficou
claro que o russo não era imune a bajulação.
— E você não disse a ele aonde ia?
— Claro que não.
— Muito bem. — Lazarev apertou o ombro de Mikhail com a mão
delicada. — Venha tomar um drinque. Conhecer o resto do pessoal.
Lazarev acompanhou Mikhail até uma grande sala com janelas para
o mar. Dois homens aguardavam em meio ao tipo de silêncio desconfortável
que se segue a uma briga. Um deles servia um drinque no carrinho de
bebidas; o outro se aquecia em frente à lareira. O primeiro tinha uma barba
espessa por fazer e o cabelo escuro e ralo penteado bem para trás. Mikhail
não pôde ver muito do homem à lareira, pois ele estava virado de costas

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