A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

permanecia silencioso e ele visualizava Mikhail sendo escoltado para a
morte através de um bosque de bétulas nevado. Por duas vezes, o receio e a
frustração impeliram-no a levantar-se, e por duas vezes Keller o mandou
sentar e esperar:
— Você fez o seu trabalho — disse calmamente, com um falso sorriso
operacional estampado no rosto bronzeado. — Deixe as coisas tomarem o seu
rumo.
Por fim, uma hora e 33 minutos após Mikhail ter entrado na casa à
beira-mar, Gabriel escutou um áspero estalido eletrônico, seguido pelo
rugido do vento, o mesmo que chacoalhava os vidros da janela congelada a
poucos centímetros de seu rosto. Bastante aliviado, ele pôde ouvir Mikhail
dizer, com a voz debilitada pelo frio:
— Eu vou pensar em sua proposta, Gennady. De verdade, vou
pensar.
— Não pense demais, Nicolai: minha oferta tem um prazo.
— Quanto tempo eu tenho?
— Gostaria de saber em uma semana. Caso contrário, terei de tomar
outra direção.
— E se eu disser sim?
— Vamos levá-lo a Moscou por alguns dias, para que você conheça o
restante da equipe. Se ela também gostar de você, passaremos à fase
seguinte. Senão, você permanecerá com Viktor e fingirá que nada disso
ocorreu.
— Por que Moscou?
— Você tem receio de ir a Moscou, Nicolai?
— É claro que não.
— E nem deveria ter. Pavel vai cuidar muito bem de você.
Essas foram as últimas palavras trocadas pelos dois. Depois, uma
porta foi fechada, deram partida num carro e o ponto de luz azul voltou a
se mover através da tela do tablet. Enquanto o sinal se aproximava das
coordenadas do restaurante onde estavam, Gabriel levantou a cabeça e viu
o grande Mercedes preto passar, levantando um torvelinho de neve.
Mikhail sobrevivera. Agora, tudo o que tinham a fazer era retirá-lo do mar e
trazê-lo para casa.
A viagem de volta a Copenhague durou 45 minutos; foi bem tediosa,
pois nada de mais aconteceu. Gabriel deixou Keller dirigir para poder focar
seu considerável poder de concentração no áudio transmitido pelo fone de

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