A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

uma guerra unilateral contra os persas seria uma catástrofe de proporções
bíblicas.
O King Saul Boulevard era o endereço do serviço secreto de
inteligência israelense no exterior. O nome longo e propositalmente enganoso
tinha muito pouco a ver com a verdadeira natureza de suas atividades. Até
mesmo agentes aposentados como Gabriel e Shamron se referiam à
instalação apenas como “o Escritório”.
— Uzi é que vê a realidade nua e crua todos os dias — falou Gabriel.
— Eu vejo também... Não tudo — acrescentou Shamron às pressas
mas o bastante para me convencer de que os cálculos de Uzi sobre quanto
tempo nós temos podem estar errados.
— Matemática nunca foi o ponto forte de Uzi. Mas, quando estava
em campo, ele nunca errava.
— Isso porque ele raramente se colocava numa posição em que fosse
possível cometer um erro. — Shamron parou de falar, observando o vento
mover o eucalipto além do parapeito da varanda de Gabriel. — Eu sempre
disse que uma carreira sem controvérsias não é uma carreira de verdade.
Tive o meu quinhão, e você também.
— E tenho as cicatrizes para provar.
— E os louros também — completou Shamron. — O primeiro-
ministro está preocupado com a possibilidade de o Escritório ser cauteloso
demais quando se trata do Irã. Sim, nós inserimos vírus em seus
computadores e eliminamos um punhado de cientistas, mas faz um
tempinho que nada explode. O primeiro-ministro gostaria que Uzi
orquestrasse outra Operação Obra-Prima.
Obra-Prima era o codinome de uma operação conjunta israelense,
americana e britânica que resultara na destruição de quatro instalações
iranianas secretas de enriquecimento de urânio. Tinha ocorrido durante o
comando de Uzi Navot, mas dentro dos corredores do King Saul Boulevard
era considerada uma das maiores conquistas de Gabriel.
— Oportunidades como a Obra-Prima não aparecem todo dia, Ari.
— Isso é verdade — admitiu Shamron. — Mas sempre acreditei que
a maioria das oportunidades são conquistadas, e não ganhas. O primeiro-
ministro compartilha dessa opinião.
— Ele perdeu a confiança em Uzi?
— Ainda não. Mas queria saber se eu tinha perdido.
— O que você disse?

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