conseguira fazer as pazes com Keller, certamente seria capaz de acertar as
contas com Navot.
As conversas sobre os planos futuros de Gabriel eram sempre
interrompidas assim que Chiara entrava no recinto. A princípio, ela tentou
colaborar, mas, como o assunto constante era a Rússia, o seu humor logo foi
arruinado. Chiara só estava viva porque membros daquela equipe certa vez
arriscaram os pescoços para salvá-la. Agora, enquanto lutavam para cumprir
um prazo quase impossível, ela assumiu o papel de cuidadora. Apesar da
tensão que reinava na casa, esforçava-se para fazer prevalecer um clima
bem familiar. Toda noite, eles sentavam à mesa para uma farta refeição e,
por insistência de Chiara, falavam sobre qualquer assunto que não fosse a
missão: livros, filmes e até mesmo o futuro de seu problemático país. Após
pouco mais de uma hora desse intervalo, Gabriel e Navot punham-se de pé
e o trabalho recomeçava. Chiara cuidava sozinha da louça com prazer,
cantarolando suavemente à pia para abafar o som da conversa na sala
contígua. Mais tarde, confidenciou a Gabriel que o simples som de uma
palavra russa provocava uma sensação de dor e vazio em seu útero.
O homem que estava no centro daquela operação permanecia
jovialmente indiferente aos esforços da equipe de agentes, ou essa foi a
impressão de quem encontrou Nicholas Avedon após o regresso a Londres.
Tinha a postura de uma pessoa que já nem se preocupava em ocultar o fato
de estar alcançando lugares que os outros nem podiam sonhar alcançar.
Orlov babava pelo protegido como se fosse o filho que nunca tivera, e
parecia a cada dia mais dependente de Avedon. O pronome nós passou a
figurar pela primeira vez no vocabulário de Orlov quando ele se referia aos
negócios — uma mudança de tom que não passou despercebida no centro
financeiro londrino. Ele comunicou à sua equipe que passaria parte do mês
de janeiro em um local não revelado do Caribe:
— Preciso de um belo e longo descanso. Agora que tenho Nicholas,
enfim posso tirar férias.
Com Orlov aparentemente distante, os rumores nos círculos
financeiros eram de que agora Nicholas Avedon era o homem a ser
procurado na VOI. A maior parte dos interessados tinha que esperar uma
semana ou mais por uma entrevista com ele, mas quando ligou um tal
Jonathan Albright, da Markham Consultoria Financeira, Avedon agendou
uma reunião sem demora. O encontro se deu em seu escritório, com vista
para a Praça Hanover, embora o assunto tratado nada tivesse a ver com
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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