A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

a entender. Mikhail sorriu e apertou a mão do homem antes de acompanhá-
lo até uma porta não identificada. Gabriel continuou até o controle de
passaportes, onde uma mulher séria observou seu rosto por um momento
desconfortavelmente longo. Por fim, ela carimbou com força o passaporte e
acenou para que ele fosse em frente. Bem-vindo à Rússia, pensou enquanto
adentrava o salão de desembarque apinhado. Ao sair do aeroporto, logo
sentiu a mistura dos cheiros de tabaco e diesel, que fizeram sua cabeça rodar.
O céu do entardecer estava claro e o frio era cortante. Olhando à esquerda
de forma sutil, Gabriel pôde ver Mikhail e seu acompanhante da Volgatek
entrando no calor confortável do Mercedes sedã que os esperava. Juntou-se
à longa fila de espera de táxis. O frio do concreto atravessava as solas finas
de seus mocassins ocidentais; quando ele enfim se esgueirou para dentro de
um Lada decrépito, seu maxilar estava tão congelado que Gabriel mal
conseguia falar. O motorista perguntou pelo destino e ele pediu para ser
levado ao Hotel Metropol — nem soube como o homem conseguiu
entender, tamanha sua dificuldade de dicção.
Saindo do aeroporto, o táxi tomou a Leningradsky Prospekt e iniciou
o longo e penoso trajeto até o centro de Moscou. Faltavam cinco para as
sete, já no final do terrível rush vespertino moscovita; ainda assim, o ritmo
de deslocamento era glacial. O motorista tentou entabular uma conversa,
mas seu inglês era tão impenetrável como o tráfego. Gabriel concordava
polidamente de vez em quando, mas sua atenção estava voltada mesmo era
para os edifícios decadentes ao longo da velha e malcuidada via. Por um
breve período, os prédios eram apenas horríveis, mas agora haviam se
transformado em ruínas. Em cada esquina, cada telhado, cartazes
anunciavam promessas de luxúria. Era o pesadelo comunista com uma nova
demão de capitalismo, refletiu Gabriel. Deprimente e impactante.
Enfim cruzaram o Anel Rodoviário dos Jardins e a prospekt embocou
na rua Tverskaya, a versão moscovita da Madison Avenue, que os levou por
uma ladeira suave, passando pela nova e luxuosa sede da Volgatek e pelos
muros de tijolos vermelhos do Kremlin. Então, chegaram às oito pistas da
rua Okhotnyy Ryad. Virando à esquerda, passaram pela Câmara dos
Deputados, pela velha Casa dos Sindicatos e pelo Teatro Bolshoi. Entretanto,
Gabriel não observava nada disso. Seus olhos enxergavam apenas a fortaleza
amarela bem iluminada por holofotes no alto da Praça Lubyanka.
— KGB — falou o motorista, apontando por sobre o volante
— Não existe KGB — replicou Gabriel em tom distante. — A KGB é

Free download pdf