A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

burburinho dos compradores noturnos. Lavon ficou encarando o BlackBerry
enquanto andava ao lado de Gabriel. Atualmente, esse era um hábito bem
russo.
— A secretária de Lazarev acabou de enviar um e-mail para a equipe
sênior sobre o jantar de hoje no Café Pushkin — informou Lavon. — Zhirov
está na lista de convidados.
— Não ouvi a voz dele hoje na Volgatek, durante a passagem de
Mikhail.
— Ele não estava lá — explicou Lavon, ainda olhando o celular. —
Depois de deixar seu apartamento nas Colinas do Pardal, foi direto para
Yasenevo.
— Por que logo hoje? Por que não estava na Volgatek para conhecer
o garoto novo?
— Talvez ele tivesse outros afazeres.
— Como o quê?
— Talvez alguém mais precisasse ser sequestrado.
— É isso que me preocupa.
Gabriel parou em frente à vitrine de uma joalheria e examinou
alguns relógios suíços reluzentes. Ao lado, havia um café de estilo soviético
com mulheres roliças infelizes de avental branco colocando comida russa
barata em pratos cinzentos da época de Leonid Brejnev. Mais de vinte anos
depois da queda do comunismo, alguns russos ainda tinham nostalgia do
passado totalitário.
— Você não está ficando inseguro, está? — perguntou Lavon.
— É dezembro em Moscou, Eli. É impossível não ter receios.
— O que você quer fazer?
— Gostaria que o hotel desse a regalia especial a Nicholas Avedon
um pouco antes do planejado.
— Regalias desse tipo são mal vistas no Café Pushkin.
— Qualquer pessoa importante anda armada no Pushkin, Eli.
— É arriscado.
— Não tão arriscado quanto a alternativa.
— Por que nós não pulamos o jantar e vamos direto para a
sobremesa?
— Eu adoraria — respondeu Gabriel —, mas o trânsito da hora do
rush não vai deixar. Teremos que esperar até as dez horas. Caso contrário,
nunca vamos conseguir tirá-lo da cidade. Ficaríamos com as mãos atadas.

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