A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

Ele tem sorte de estar vivo.
— Ele é osso duro de roer.
— Talvez ele seja um anjo, afinal. — A senhora tocou o rosto de
Chiara de novo. — E você também foi até lá, não é mesmo?
— Quem lhe disse que eu fui à Rússia?
— Você foi sem dizer ao seu marido — continuou a signadora, como
se não tivesse escutado a pergunta. — Vocês ficaram juntos por algumas
horas num quarto de hotel na cidade da noite. Você se lembra?
Ela sorriu, ainda tocando o rosto de Chiara. Então, afastou-lhe os
cabelos.
— Devo continuar? — indagou a velha.
— Não acredito que você possa ver o passado.
— Seu marido foi casado com outra mulher antes de você —
prosseguiu a signadora, como se tentasse provar que Chiara estava
enganada. — Havia uma criança. Houve um incêndio. A criança morreu,
mas a mulher, não. Ela ainda vive.
Chiara se afastou com um movimento brusco.
— Você o amou por muito tempo — continuou a velha —, mas ele
não se casou com você por causa do luto. Ele a mandou embora, mas voltou
numa cidade de água.
— Como você sabe disso?
— Ele fez uma pintura de você envolta em lençóis brancos.
— Foi um esboço — retrucou Chiara.
A mulher deu de ombros, indicando que aquilo não fazia muita
diferença. Então, gesticulou na direção da mesa, onde havia um prato com
água e uma vasilha de azeite ao lado de duas velas acesas.
— Não quer sentar? — perguntou ela.
— Prefiro continuar em pé.
— Por favor. Só vai levar um instante. E, então, eu saberei com
certeza.
— Saberá o quê?
— Por favor — repetiu ela.
Chiara se sentou. A velha se acomodou à sua frente.
— Mergulhe o dedo no azeite. Depois, deixe três gotas caírem na
água.
Chiara seguiu as instruções com relutância. Ao tocar a superfície da
água, o azeite reuniu-se numa única gota. A velha teve um sobressalto e

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