A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Onde você o encontrou?
— No fundo de uma gaveta abarrotada.
A signadora balançou a cabeça.
— Você está mentindo para mim, Christopher. Você nunca vai
aprender que eu sei perceber?
Keller sorriu, mas não disse nada. A velha soltou o talismã e tocou sua
bochecha de novo.
— Você está deixando a ilha, Christopher?
— Esta noite.
A signadora não indagou o motivo: sabia exatamente o que Keller
fazia para ganhar a vida. Na verdade, ela já tinha até mesmo contratado
um jovem taddunaghiu chamado Anton Orsati para vingar o assassinato do
marido.
Com um meneio de cabeça, convidou Keller e Gabriel para se
sentarem à pequena mesa de madeira em sua sala. Colocou sobre o tampo
um prato cheio de água e uma vasilha de azeite de oliva. Keller mergulhou
o dedo indicador no azeite e, em seguida, o manteve acima do prato, para
que três gotas caíssem na água. De acordo com as leis da física, elas deveriam
ter-se aglomerado. Em vez disso, a substância se desfez em mil gotículas e
desapareceu.
— O mal retornou, Christopher.
— Receio que seja um risco ocupacional.
— Não faça piadas, meu querido. O perigo é muito real.
— O que a senhora vê?
Ela focou toda a atenção no líquido, como se estivesse em transe.
Depois, perguntou baixinho:
— Vocês estão procurando a garota inglesa?
Keller assentiu.
— Ela está viva?
— Sim — respondeu a velha. — Está viva.
— Onde ela está?
— Não está em meu poder dizer isso.
— Nós vamos encontrá-la?
— Quando ela estiver morta. Então vocês saberão a verdade.
— O que a senhora vê?
Ela fechou os olhos.
— Água... montanhas... um velho inimigo...

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