A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

de bairro, acolhedor e barulhento, com uma clientela composta na sua maior parte
por moradores da zona e por alunos da Sorbonne.
Enquanto comia, Delaroche leu um artigo do correspondente em
Washington do Le Maneie, que dizia que os ataques aéreos contra alvos da Espada
de Gaza na Síria e na Líbia tinham infligido um rude golpe nas negociações de paz
no Oriente Médio. Esses países estavam se equipando com armas novas e
perigosas, algumas delas de fabricação francesa. As negociações entre palestinos e
israelenses estavam num impasse, depois de semanas de tensão em Gaza e na
Cisjordânia. Os peritos em espionagem alertavam para uma nova vaga de terror
internacional. Os diplomatas da Europa Ocidental queixavam-se, dizendo que os
Americanos se tinham vingado sem pensar nas consequências. Delaroche pousou o
jornal na mesa e comeu. Ficava sempre espantado com o pouco que os jornalistas
sabiam acerca do mundo secreto.
O homem a entrar no prédio chamou-lhe a atenção.
Delaroche observou-o com atenção: baixo, cabelo louro ralo, um corpo de
lutador amolecido pelo deboche. O corte ofensivo do sobretudo mostrava que era
americano. Seguia de braço dado com uma bonita prostituta francesa, mais alta do
que ele, com cabelo escuro pelos ombros e lábios de um vermelho garrido. O
americano abriu a porta e o casal desapareceu pelo hall escurecido. Momentos
depois, a luz brilhava no apartamento do segundo andar.
Delaroche animou-se. Receara poder vir a cair numa armadilha. Sozinho
num apartamento estranho, sem qualquer rota de fuga, seria presa fácil, caso
tivesse sido um dos seus inimigos a organizar o encontro. Mas um agente
operacional corrupto a ponto de levar uma prostituta para uma casa de segurança
não deveria representar grande ameaça. Só um amador, ou um profissional
indisciplinado, se arriscaria dessa forma.
Nesse momento, Delaroche decidiu comparecer ao encontro.
Na manhã seguinte, Delaroche levantou-se cedo e foi correr pelas Tuileries.
Vestiu um anorak azul-escuro para se proteger da chuva leve que molhava os
jardins. Correu a bom ritmo durante quarenta e cinco minutos, com a cascalho dos
caminhos pedestres a ressoar ao ser esmagada debaixo dos seus pés. No último
quilômetro esforçou-se ainda mais. Quando terminou, estava na rue de Rivoli,
ofegante, com os parisienses a passarem por ele, apressados, a caminho do
trabalho.
Chegado ao quarto, tomou uma ducha e mudou de roupa. A Glock de 9 mm
esteve sempre ao alcance da mão. Não se sentia bem a deixá-la ficar, mas iria
cumprir as regras do encontro. Vestiu a blusa, guardou a arma no cofre do pequeno
quarto e desceu.

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