A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Tomou o pequeno-almoço no restaurante do hotel, uma sala agradável com
vista para a rue de Rivoli, e deu uma vista de olhos aos jornais da manhã. Foi o
último hóspede a deixar a sala.
Da recepção trouxe um mapa das ruas de Paris e um guia turístico. O
recepcionista de serviço perguntou-lhe se desejaria entregar-lhe a chave do quarto.
Delaroche abanou a cabeça e saiu para a rua.
Apanhou um táxi para a rue de Tournefort e saiu no restaurante de esquina
onde jantara na véspera. A chuva parara, por isso sentou-se na esplanada. Apesar
das nuvens, usava óculos de sol Ray-Ban com hastes grossas.
Eram 9h45. Delaroche pediu café e um brioche e observou a janela do
apartamento de segundo andar do outro lado da rua. O homem de corpo de
lutador apareceu por duas vezes na janela da frente. Da primeira vez vestia um
roupão de banho e segurava uma caneca de café, como se estivesse de ressaca. Da
segunda vez, às 9h55, vestia um terno azul completo e o cabelo louro ralo estava
imaculadamente penteado.
Delaroche perscrutou a rua. O passeio estava apinhado de parisienses que
corriam para os seus empregos e de estudantes que se dirigiam à Sorbonne. Na rue
de Tournefort, um par de trabalhadores preparava-se para descer ao esgoto. Outro
varria dejetos de cão. À volta de Delaroche, as mesas foram sendo ocupadas.
Poderia estar cercado de vigilância, sem que nunca se apercebesse. Às dez horas
deixou dinheiro em cima da mesa e atravessou a rua. Tocou com descontração à
campainha e virou as costas à câmara sobre a porta. O trinco eletrônico abriu e
Delaroche entrou para o hall.
Não havia elevador, apenas uma escadaria ampla, que Delaroche subiu
rapidamente. O prédio estava em silêncio, sem outros inquilinos por ali. Delaroche
chegou ao segundo andar sem ser visto. Arbatov indicara-lhe que não deveria tocar
à campainha. A porta abriu de imediato e o lutador fez-lhe sinal para entrar com
um aceno da mão enorme.
Delaroche olhou à sua volta enquanto o outro homem o revistava lenta e
metodicamente, primeiro com as mãos, depois com um magnetômetro. A mobília
tinha um ar masculino e confortável: cadeiras e sofás pretos e informais dispostos à
volta de uma mesa de centro com tampo de vidro, estantes de teca repletas de
volumes de história, biografias e thrillers de autores americanos e ingleses. A
restante porção visível de parede estava vazia, com marcas esbatidas de quadros
em tempos pendurados. Os livros eram os únicos artigos pessoais. Não se via
fotografias de familiares ou de amigos, nem correspondência, nem bloco para
recados ao lado do telefone.
─ Café? ─ ofereceu o lutador quando terminou.

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