A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

─ Ainda tem a mesma morada na Internet?
Delaroche anuiu e tirou os óculos de sol do bolso do casaco.
─ Quaisquer instruções adicionais serão enviadas para lá... codificadas,
logicamente. A chave será a mesma palavra de código.
─ Não é preciso dizer-lhe que a Internet é vasta, mas bastante insegura.
Apenas deverá ser utilizada em caso de emergência.
─ Compreendido.
Delaroche apresentou o disco. Quando o americano estendeu a mão para o
aceitar, Delaroche deixou-o cair. Os olhos do americano deslocaram-se de
Delaroche para o disco por um breve momento, mas apercebeu-se de que cometera
um erro fatal. A mão esquerda de Delaroche fechou-se sobre a boca do americano
com um aperto férreo e virou ligeiramente a cabeça do homem para aumentar as
probabilidades de o matar com um único golpe.
Depois enfiou a haste dos óculos de sol no olho direito do indivíduo. Fora
revistado meticulosamente, mas o lutador não se apercebera de que a haste direita
dos óculos de Delaroche era aguçada, o que permitia que o golpe atravessasse a
cobertura protetora do cérebro e lacerasse a artéria, carótida atrás do olho. A
hemorragia foi rápida e catastrófica. Em breve o homem perdia a consciência.
Morreria em poucos segundos. Delaroche instalou-o à frente da televisão com a sua
pornografia. Retirou os óculos de sol do olho perfurado e lavou-os com cuidado no
lava-loiça. Foi buscar o disco que ficara em cima da mesa de centro e guardou-o no
bolso do casaco. Depois colocou os óculos e saiu para a manhã parisiense.
Delaroche estava sentado no Musée de L'Orangerie des Tuileries, cercado
pelas Ninfas de Monet, quando decidiu matar Arbatov. Na verdade, não foi uma
decisão penosa. Assim que terminasse a missão, Delaroche seria um dos homens
mais procurados do mundo. Seria procurado pelas mais poderosas agências de lei e
de espionagem do planeta. A pessoa que mais o poderia prejudicar seria Arbatov.
Caso fosse descoberto, e pressionado o suficiente, Arbatov poderia trair Delaroche
para salvar a pele. Era um risco que Delaroche já não estava disposto a correr.
Contemplou os azuis, os verdes e os amarelos suaves do trabalho de Monet
e pensou na ação que acabara de desempenhar. Delaroche não retirava prazer da
morte, mas nem mesmo assim sentia remorsos. Fora treinado para cometer
assassinatos com uma celeridade brutal e mecânica. A rapidez com que matava
protegia-o de qualquer culpa, ou remorso. Era como se tivesse sido outra pessoa a
cometer o ato. Não era ele o culpado. Os verdadeiros assassinos eram os homens
que tinham ordenado a morte. Delaroche não passava da arma: a faca, a pistola, o
objeto rombo. Se não fosse ele o contratado, seria outro no seu lugar.

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