WASHINGTON, D. C.
Susanna Dayton passou a tarde de domingo trabalhando do meio-dia às
oito, sem interrupção, salvo para abrir a porta no meio da tarde para uma entrega.
Tom Logan, o editor do Post , exigira mais, e ela o encontrara. O artigo era
inatacável. Possuía documentos imobiliários e bancários reais que corroboravam as
acusações mais graves. Tinha fontes humanas duplas e triplas que corroboravam as
restantes. Nenhum dos mencionados no artigo poderia pôr em causa o que era
dito. Os fatos falavam por si, e Susanna estava na posse dos fatos.
O dia foi gasto em escrever. Trabalhou em casa, pois não queria distrações.
O artigo estava repleto de informações: números, nomes, datas, locais, pessoas. O
desafio de Susanna era transformá-lo numa história interessante. Começou com
uma breve descrição da personagem central, James Beckwith, um jovem
procurador, um talento promissor sem fortuna pessoal, que poderia auferir no
setor privado um rendimento bastante superior ao da política. Surge então Mitchell
Elliott, um empresário da defesa e benfeitor republicano extremamente abastado.
Continue na política, sugeriu Elliott ao jovem Beckwith, e deixe tudo comigo. Ao
longo dos anos, Elliott enriqueceu os Beckwith com uma série de transações
imobiliárias e financeiras. E o homem que concebeu muitos dos esquemas foi o
principal advogado de Elliott, e lobista de Washington, Samuel Braxton.
O resto derivava dessa premissa. Pelas oito horas, Susanna escrevera um
artigo de quatro mil palavras. Iria mostrá-lo a tom Logan na manhã seguinte.
Devido à natureza bastante séria das acusações, Logan teria de o submeter ao crivo
do editor geral e do editor chefe do jornal. Depois os advogados iriam analisar uma
cópia. Sabia que os dias seguintes seriam longos e difíceis.
Ao artigo faltava um derradeiro elemento: comentários da Casa Branca, de
Mitchell Elliott e de Samuel Braxton. Susanna procurou no Rolodex, encontrou o
primeiro número de telefone e marcou-o.
─ Alatron Defense Systems. ─ Era uma voz masculina, átona e vagamente
militar. ─ Fala Susanna Dayton, do Washington Post. Gostaria de falar com Mitchell
Elliott, por favor.
─ Sinto muito, Sra.. Dayton, mas de momento o senhor Elliott não se
encontra disponível.
─ Importa-se de lhe transmitir um recado?
─ com certeza.
─ Tem uma caneta à mão? ─ E claro, Sra. Dayton.