A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

BRÉLÉS, FRANÇA


Delaroche decidiu que precisava de uma mulher.
Chegou a essa conclusão depois de ver o conteúdo do disco uma segunda
vez, agora no computador da casa de Brélés. Dois dos três alvos que restavam eram
conhecidos mulherengos. Delaroche conhecia os seus hábitos, onde comiam e
bebiam, sabia qual a zona onde caçavam. Mesmo assim, seria difícil aproximar-se
desses alvos.
Uma mulher tornaria as coisas mais fáceis.
Delaroche precisava de uma mulher.
Tinha mais um dia para gastar em Brélés. Quando terminou com os
arquivos, foi andar de bicicleta. O tempo estava bom: limpo, para Novembro, com
vento fraco vindo do mar. Sabia que passaria bastante tempo sem bicicleta, por isso
fez por se levar ao limite. Pedalou para o interior ao longo de alguns quilômetros,
até as colinas arborizadas da Finistère, regressando então à beira-mar. Fez uma
pausa nas ruínas em Pointe de Saint-Mathieu e depois dirigiu-se a norte, ao longo
da costa, de volta a Brélés.
Dedicou o início da tarde à preparação. Limpou e oleou as suas duas
melhores armas, uma Beretta de 9 mm e a Glock, e confirmou várias vezes os
mecanismos de disparo e os silenciadores. Tinha uma terceira arma que mantinha
presa ao tornozelo, num coldre de velcro, uma pequena Browning automática
concebida para ser guardada numa bolsa de mulher. No caso de uma pistola não
ser adequada, levaria uma faca, um punhal sólido com lâmina dupla de quinze
centímetros e sistema automático.
De seguida reuniu os passaportes falsos, francês, italiano, holandês,
espanhol, sueco, egípcio e americano, e organizou as finanças. Tinha os duzentos
mil francos da galeria de Paris, e em Zurique levantaria o meio milhão de dólares.
Seria mais do que suficiente para financiar a missão. Saiu ainda de dia e dirigiu-se
à aldeia. Comprou pão na boulangerie e salsicha, queijo e patê a Mademoiselle
Plauché. Didier e os amigos bebiam vinho no café. Acenou a Delaroche para que se
lhes juntasse. Num gesto fora do comum, o convite foi aceite. Pediu mais vinho e
comeu pão com azeitonas até o pôr do sol. Nessa noite, tomou uma refeição
simples no terraço de pedra com vista para o mar. Concordara em matar outros três
homens em quatro semanas. Apenas um louco aceitaria tal coisa. Teria sorte se
sobrevivesse à missão. Mesmo que vivesse, talvez não pudesse regressar a Brélés.
Delaroche sempre matara sem paixão mas, pela primeira vez em muito
tempo, não se recordava quando, sentia uma excitação que lhe percorria o corpo.

Free download pdf