Era semelhante à sensação que tivera com dezesseis anos, na noite em que matara
pela primeira vez.
Levantou os pratos e lavou-os na cozinha. Depois passou a hora seguinte a
vasculhar a casa e a queimar tudo o que poderia sugerir a sua existência. Delaroche
apanhou o comboio da manhã de Brest para Paris, e o comboio do meio-dia de
Paris para Zurique. Chegou uma hora depois de o banco ter fechado. Deixou o
pequeno saco na estação e cambiou alguns francos franceses num bureau de
change.
Percorreu uma rua cintilante, ladeada por lojas iluminadas e exclusivas.
Numa loja da Gucci, utilizou dinheiro vivo para comprar uma pequena mala preta
para documentos. Disse ao empregado de balcão que não precisava de saco e,
momentos depois, estava de volta ao passeio, com a mala dependurada do braço
direito. Quando chegou à entrada austera do banco, nevava ligeiramente. A única
indicação da natureza do estabelecimento era a pequena placa dourada ao lado da
porta. Delaroche pressionou o botão da campainha e aguardou enquanto o
segurança o inspecionava através da lente da câmara de vídeo instalada por cima
da porta.
A tranca da porta abriu e pôde entrar numa pequena antecâmara de
segurança. Pegou num telefone preto e anunciou que tinha um encontro com Herr
Becker. Este chegou momentos depois, imaculadamente vestido, um palmo mais
baixo do que Delaroche, e com uma cabeça calva que brilhava na luz fluorescente.
Delaroche seguiu-o ao longo de um corredor silencioso e debilmente
iluminado, forrado com carpete bege. Becker levou-o para outra sala de segurança e
trancou a porta por onde entraram. Delaroche sentia-se claustrofóbico. Becker
abriu um pequeno cofre de onde retirou o dinheiro. Delaroche fumou enquanto
Becker contou as notas.
A transação demorou menos de dez minutos a ser concluída. Delaroche
assinou o recibo pelo dinheiro e Becker ajudou-o a guardá-lo na pasta.
Na sala de entrada, Becker olhou para a rua.
─ Todo o cuidado é pouco, Monsieur Delaroche ─ disse. ─ Andam ladrões
por aí. ─ Obrigado, Herr Becker, julgo poder tomar conta de mim próprio. Tenha
uma boa noite.
─ Igualmente, Monsieur Delaroche.
Delaroche não quis andar muito com o dinheiro, por isso apanhou um táxi
até a estação. Levantou o saco do cacifo e comprou um bilhete de primeira classe
num comboio noturno para Amsterdam.
Delaroche chegou à Centraalstation de Amsterdam bem cedo na manhã
seguinte. Atravessou rapidamente o hall apinhado, os olhos orlados de vermelho
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1