A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

atraente que aprendera a esconder a beleza para se fundir com o ambiente que a
rodeava. Delaroche permitiu-se um momento a apreciá-la.
─ E o que te traz a Amsterdam, Jean-Paul? Negócios ou prazer?
─ És tu, Astrid. Preciso da tua ajuda.
Abanou lentamente a cabeça e acendeu um cigarro. Delaroche imaginara
que pudesse não estar disposta a trabalhar com ele. Matara com frequência e
pagara um preço muito elevado por isso, uma vida passada a fugir a todas as forças
policiais e serviços secretos do Ocidente. Conseguira acomodar-se tanto quanto
possível, e agora Delaroche pedia-lhe que abrisse mão de tudo isso.
─ Há muito tempo que deixei esse mundo, Jean-Paul. Estou cansada de
matar.
Não gosto tanto de o fazer como tu.
─ Eu não gosto de matar. Apenas o faço porque me pagam e porque não sei
fazer mais nada. Em tempos foste muito boa.
─ Matava porque acreditava em alguma coisa. Há uma grande diferença. E
vê só o que consegui ─ contrapôs, apontando para o que a rodeava. ─ Bem, imagino
que pudesse ser pior. Podia estar em Damasco. Que tempos terríveis.
Delaroche ouvira dizer que ela passara dois anos escondida na Síria,
cortesia de Hafez al-Assad e dos seus serviços secretos, e outros dois anos na Líbia,
como convidada de Mu'ammar Khadafi.
─ Estou oferecendo a liberdade, a oportunidade de largar tudo para trás e
dinheiro suficiente para passar o resto da vida num lugar confortável. Quer ouvir
mais?
Astrid apagou o cigarro e acendeu outro de imediato.
─ Raios te partam.
Delaroche levantou-se.
─ Imagino que seja um sim ─ disse.
─ Quantas pessoas vamos matar?
─ Volto daqui a meia hora.
Regressou ao hotel, fez as malas e pagou a conta. Trinta minutos depois,
descia pela escotilha do Krista, com o pequeno saco de viagem e uma pasta de
nylon com o computador portátil. Voltaram a instalar-se no salão, Delaroche ao
computador, Astrid sentada numa otomana. Delaroche percorreu os alvos, um a
um. Astrid manteve-se imóvel como uma estátua, as pernas cruzadas por baixo do
corpo, uma mão comprida a apoiar o queixo, a outra com um cigarro. Não disse
nada, não fez perguntas, pois, tal como Delaroche, tinha uma memória prodigiosa.
─ Se me ajudares, pago-te um milhão de dólares ─ adiantou Delaroche, ao
concluir as informações. ─ E ajudo-te a instalares-te num sítio seguro e um pouco

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