A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Não era a mesma mulher que Delaroche vira na livraria de Amsterdam dez
dias antes. Passara a tarde na Harrod's e nas lojas resplandecentes de Bond Street,
armada com uma boa provisão do dinheiro de Delaroche. Usava agora um vestido
preto, meias pretas, um relógio de ouro e uma fiada dupla de pérolas ao pescoço. A
mola preta simples desaparecera-lhe do cabelo, que fora aparado e penteado por
um estilista italiano de um salão em Knightsbridge. Caía-lhe agora à volta do rosto
e do pescoço. Astrid sabia disfarçar a sua beleza natural, mas também sabia como
chamar a atenção quando necessário.
Delaroche estava sentado num banco em Sloane Square, fingindo ler um
exemplar do The Evening Standard comprado numa banca perto da estação de
metro da praça. Observou o desenrolar dos acontecimentos no interior do
restaurante como uma pantomima. Astrid sentada sozinha no bar, o cigarro eterno
entre os dedos compridos e magros. Yardley, alto, grisalho, distinto, pergunta se o
lugar ao seu lado está livre. À frente dele surge de imediato uma bebida, o
habitual, e, pela sua expressão, julga que ela ficou impressionada. Acena ao
empregado para que este sirva à Sra. outro copo de vinho branco. Astrid, grata, vira
o corpo para o encarar, uma perna comprida cruzada de modo sugestivo sobre a
outra, a saia bem subida na coxa. Já lhe pertence. A mulher solitária e assustada da
casa flutuante de Amsterdam desapareceu. É uma holandesa decidida e
cosmopolita cujo marido ganha dinheiro e ignora-a demasiado e, sim, pode
acender-me o cigarro, querido.
Após uma hora, ela levanta-se e veste o casaco. Apertam as mãos de modo
formal.
Ela permite que os dedos permaneçam um instante a mais nos dele.
Pergunta-lhe onde está hospedada? No Dorchester. Pode dar-lhe boleia? Não, não é
necessário. Pode chamar-lhe um táxi? Não, ela trata disso. Poderão encontrar-se
novamente, antes que deixe Londres? Volte amanhã à noite e, se tiver sorte,
querido, estarei aqui.
Cruzou rapidamente a praça, passando por Delaroche, embrenhado na
leitura do jornal. Dirigiu-se a norte, subindo Sloane Street.
Delaroche viu Yardley chamar um táxi e entrar para o carro. Levantou-se e
atravessou a praça até Sloane Street.
─ Como correu?
─ Se deixasse, tinha-me fodido ali mesmo no bar.
─ Quer dizer que se mostrou interessado?
─ Convidou-me para ir a casa dele, para uma bebida e caril de take-away.
Disse-lhe que o meu marido poderia ficar zangado se eu não estivesse no hotel
quando a reunião acabasse.

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