A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Vaguearam pelos sossegados vales georgianos de Belgravia, tendo como único
ruído de fundo o ronco distante do trânsito noturno de King's Road.
─ Quero falar com Drozdov ─ disse Michael.
─ Não podes falar com o Drozdov. Não está ao teu alcance. Além do mais,
ele diz que deixou de falar e que pretende passar o resto dos dias em paz. ─ Tenho
uma teoria sobre o assassino que matou Yardley e quero que ele me dê a sua
opinião.
─ O Drozdov é o nosso desertor. Já partilhamos as informações com você.
Se tentares falar com ele, vais ficar em maus lençóis, tanto pela tua parte como pela
nossa.
─ Por isso mesmo, vai ser uma conversa oficiosa.
─ O que tem em mente? Estás pensando em cruzar com ele e dizer: "Ei,
você não é Ivan Drozdov, o antigo assassino do KGB? Importa-se que lhe faça umas
perguntas?" Tome juízo, Michael.
─ Tinha pensado em utilizar uma abordagem um pouco mais sutil.
─ Se descobrirem, nego qualquer envolvimento. Até te acuso de ser espião
russo.
─ Não esperaria menos do que isso.
─ Ele está morando em Cotswolds. Numa aldeiazinha chamada Aston
Magna. Toma chá e lê os jornais todas as manhãs num café de Moreton, a poucos
quilômetros de distância.
─ Conheço bem a região ─ disse Michael.
─ É o homem com os cães corgis e a bengala nodosa. Parece mais inglês do
que o príncipe Philip. Não há como errar.
Graham Seymour acompanhou Michael até Sloane Street antes de se
despedir e regressar a Eaton Place. Michael deveria ter seguido em direção ao
norte, até Hyde Park e seu hotel, mas, em vez disso, quando Graham desapareceu
encaminhou-se para o sul, para Sloane Square.
Atravessou a praça e perambulou pelas sossegadas ruas secundárias de
Chelsea, até chegar à Represa, virada para o Tamisa. As luzes brilhavam nas casas
de luxo sobranceiras. O passeio cintilava com a névoa do rio. Michael tinha a zona
só para si, não fosse um homem calvo e baixo que se apressava pela rua, as mãos
enfiadas nos bolsos do oleado puído, a coxear como um soldadinho de chumbo que
já não presta para brincar.
Apoiou-se à barreira, olhou para o rio e depois virou-se e fitou Battersea
Bridge e as luzes brilhantes de Albert Bridge, mais além. Podia ver Sarah a dirigir-
se a ele, através das trevas e da neblina, o cabelo negro puxado para trás, a saia a
dançar à volta das botas de camurça. Sorria-lhe como se fosse a pessoa mais

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