A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

importante à face da terra, como se tivesse passado o dia a pensar nele. Era o
mesmo sorriso que lhe oferecia sempre que ele entrava no apartamento, sempre
que se encontravam para uma bebida no bar, ou para um espresso , no restaurante
preferido.
Pensou na última vez que estiveram juntos. Fora na tarde anterior, quando
passara pelo apartamento e a encontrara no chão, com um maiô branco, o corpo
magro dobrado sobre as longas pernas nuas. Recordou como ela se levantara e lhe
beijara a boca, como baixara o maiô dos ombros para que ele lhe tocasse nos seios.
Mais tarde, na cama, confessara ter fantasiado que fazia amor com ele para aliviar o
enfado dos exercícios de alongamento. Que ficava sempre terrivelmente tensa e
que tinha de resolver o problema sozinha, pois ele estava a trabalhar.
Nesse momento sentiu-se completamente apaixonado. Fez amor com ela
uma última vez. Ela ficou deitada de costas, imóvel, os olhos fechados, o rosto
passivo, tanto tempo quanto conseguiu, até que o prazer físico foi demasiado e
abriu os olhos e a boca, puxou-o para si e beijou-o até chegarem juntos. Foi essa
imagem, e a visão dela a flutuar na sua direção à luz da Represa de Chelsea, que foi
estilhaçada pelo homem com a arma.
Recordou o rosto dela a explodir, o corpo a dissolver-se à frente dos seus
olhos. Recordou o assassino: tez pálida, cabelo muito curto, nariz fino. Viu mais
uma vez a forma como sacou a pistola da cintura, o modo como o braço se
levantou, como disparou três vezes sem hesitar. Michael correu para ela, mesmo
sabendo que estava morta. Por vezes, desejava ter perseguido o assassino, embora
soubesse que tal provavelmente lhe teria custado a vida. Em vez disso, ajoelhou-se
a seu lado e abraçou-a, a cabeça dela apertada contra o peito para não lhe ver o
rosto desfeito.
Começou a chover. Apanhou um táxi de volta ao hotel. Despiu-se, deitou-se
e telefonou a Elizabeth. Ela deve ter percebido algo na voz do marido, pois soluçou
quando se despediu e desligou. Michael sentiu uma pontada de culpa, como se
tivesse acabado de traí-la.

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