A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

faisões pendurados à porta. Michael pensou em Sarah, à sua frente com um prato
de feijão com arroz e puré de abóbora, a fitá-lo enquanto ele arrancava a carne dos
ossos de um faisão assado. Entrou no restaurante e pediu café e um bolo à jovem
rechonchuda ao balcão.
Michael reconheceu Ivan Drozdov das fotografias da Agência. Era calvo,
salvo por uma franja grisalha, e o corpo alto estava debruçado sobre uma pilha de
matutinos. Tinha os óculos de leitura dourados na ponta do nariz e semicerrava os
olhos contra o fumo do cigarro preso aos lábios finos. Vestia uma blusa cinzenta de
gola alta e um blusão verde com gola de bombazina. Um par de corgis idênticos
lambiam-se ao lado das botas Wellington sujas com lama úmida.
Michael levou a comida para a mesa ao lado e sentou-se. Drozdov ergueu
brevemente o olhar, sorriu e regressou aos jornais. Passaram alguns minutos, com
Michael a beber café e Drozdov a ler o The Times e a fumar.
Por fim, sem levantar os olhos, Drozdov disse:
─ Será que vai falar, ou vai ficar aí sentado, a incomodar-me os cães? ─
Chamo-me Cari Blackburn, e estava a pensar se poderíamos falar um pouco ─
replicou Michael, surpreendido.
─ Na verdade, o seu nome é Michael Osbourne. Trabalha para o Centro de
Contraterrorismo da CIA, em Langley, na Virgínia. Já foi agente de campo, até que
a sua amante foi assassinada em Londres e a Agência levou-o para a sede.
Drozdov dobrou cuidadosamente o jornal e deu pedaços de bolo aos cães.
─ Se quiser falar, podemos ir dar um passeio ─ indicou. ─ Mas não volte a mentir-
me. É insultuoso e eu reajo mal aos insultos.
─ Tem noção de que está sendo vigiado, senhor Osbourne?
Caminhavam ao longo de um trilha na direção da aldeia de Aston Magna,
onde Drozdov se instalara quando a União Soviética se desmoronara e a ameaça de
morte por parte dos seus antigos mestres do KGB desaparecera. Era um palmo
mais alto do que Michael e, tal como muitos homens altos, inclinava-se
ligeiramente para se encolher. Andava com lentidão, as mãos atrás das costas, a
cabeça baixa, como se procurasse algo perdido. Os cães seguiam alguns metros à
frente, como se fossem contravigilância. Michael, que por natureza andava
depressa, esforçava-se por acompanhar o passo desajeitado de Drozdov.
Interrogou-se como teria o idoso avistado quem o seguia, pois Michael não o vira a
olhar.
─ Dois homens ─ indicou Drozdov. ─ Uma van Ford branca.
─ Avistei-os na M-40, alguns quilômetros fora de Londres.
─ Alguém sabe que veio falar comigo?

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