A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Drozdov hesitou. Desertara, traíra seu serviço, mas revelar nomes de
código era o equivalente em espionagem à quebra da omertà da Máfia. ─ Outubro,
senhor Osbourne. O nome de código era Outubro ─ acabou por dizer.
O sol apareceu brevemente entre as nuvens, aquecendo o campo. Michael
desabotoou o casaco e acendeu um cigarro. Drozdov imitou-o, a testa franzida
enquanto fumava, como se procurasse a melhor forma de começar a narrativa.
Michael já lidara com muitos agentes. Sabia quando devia forçar e quando era
preferível esperar e ouvir. Não tinha como pressionar Drozdov, que apenas falaria
se quisesse.
─ Ao contrário do que se pensa no Ocidente, não éramos muito bons a
matar pessoas ─ acabou Drozdov por dizer. ─ Sim, no interior da União Soviética
éramos muito eficientes. Mas fora do bloco soviético, no Ocidente, éramos terríveis
no que dizia respeito a assuntos sujos. Um dos nossos melhores assassinos,
Nikolai Khokhlov, mudou de ideias quando estava a tentar matar um líder da
resistência ucraniana e desertou. Tentamos matá-lo e também fracassamos.
Durante muito tempo, o Politburo desistiu do assassinato como ferramenta do
ofício. Drozdov largou a beata do cigarro para a lama e pisou-a com a ponta da
bota. ─ Isso mudou no final dos anos 60. Olhamos para o Ocidente e vimos
conflitos internos um pouco por toda a parte: os irlandeses, os bascos, os Baader-
Meinhof alemães, os palestinos. Além disso, tínhamos também os nossos próprios
problemas para resolver, os dissidentes, os desertores, sabe como é. Tal como sabe,
os assassinatos eram geridos pelo Departamento Cinco do Primeiro
Diretorado Principal. O Departamento Cinco queria um assassino muito
bem treinado, com base permanente no Ocidente, que levasse a cabo mortes em
cima da hora. Esse assassino era o Outubro.
─ Quem é ele? ─ indagou Michael.
─ Entrei para o Departamento Cinco depois de ele estar integrado no
Ocidente. O seu arquivo não revelava nada sobre a verdadeira identidade. Havia
boatos, é claro. Dizia-se que era filho ilegítimo de uma patente bastante elevada do
KGB: de um general, ou talvez do próprio presidente. Não passavam de boatos.
Foi acolhido muito novo pelo KGB e recebeu uma educação e um treino
intensivos. Em 8, ainda adolescente, foi enviado para o Ocidente através da
Checoslováquia, fazendo-se passar por refugiado. Acabou por se mudar para Paris.
Fingiu-se um jovem desalojado e foi recebido por um orfanato católico. Ao longo
dos anos desenvolveu uma identidade francesa à prova de tudo. Frequentou
escolas francesas, tinha um passaporte francês, tudo. Até cumpriu o serviço militar
no exército francês.
─ E depois começou a matar.

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